A taxa de desemprego teve a primeira alta registrada desde o trimestre encerrado em janeiro de 2022. Em igual período deste ano, o indicador que mede a quantidade de pessoas na força de trabalho em busca de uma vaga foi de 8,4%, ante 7,9% nos três meses encerrados em dezembro. Trata-se do menor índice para este período em sete anos.
O curioso é que isso ocorre apesar da saída de 1.025 milhão de trabalhadores da estatística que mensura a população ocupada, entre novembro do ano passado e janeiro de 2023. Essa é a maior queda de toda a série histórica em igual recorte temporal da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada nesta sexta-feira (17) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Deste total, 511 mil eram trabalhadores informais.
Conforme o coordenador da pesquisa do IBGE no Estado, Walter Rodrigues, essas pessoas a menos na faixa de ocupação não alteram substancialmente o indicador do desemprego, que, em outubro, contabilizava 9,022 milhões de indivíduos e, em janeiro, 8,995 milhões.
— É um dado bastante preocupante, porque é quase o dobro da maior queda para a população ocupada no período (583 mil) em 2016, quando o país já estava submerso em uma recessão. Percebia-se que o emprego subia, mas em menor velocidade, agora veio uma queda que atesta a estagnação da atividade econômica — analisa Rodrigues.
O coordenador do IBGE explica que o movimento voltou a desinflar a taxa de participação da força de trabalho, pois a grande maioria não voltou a procurar por uma colocação. Para a economista da Fecomércio-RS Giovana Menegotto, uma das explicações passa pela elevação de recursos em programas sociais de transferência de renda, caso do Auxílio Brasil, agora, Bolsa Família. Para ela, outra parcela do resultado é justificada por um ajuste sazonal de um mercado menos aquecido.
Redução é tendência, diz economista
Diante dos números, Fernando de Holanda Barbosa Filho, economista sênior da área de Economia Aplicada da Fundação Getulio Vargas (FGV/IBRE), acrescenta que a diminuição do mercado de trabalho é uma tendência para o decorrer deste ano. O motivo está vinculado, segundo ele, à desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB), mas afirma que é cedo para colocar a performance na conta do novo governo:
— Não existe política pública capaz de gerar postos de trabalho. A única solução é uma economia aquecida, e não vemos indícios de que isso vá acontecer em curto prazo.
De acordo com o economista, um aspecto positivo é a elevação da renda média real, que bateu em R$ 2.835, após alta de 1,6% no trimestre encerrado em janeiro. O fator, assinala, pode ser um indicativo de certa “resiliência” no mercado de trabalho.
O economista da FGV Mauro Rochlin comenta que o desempenho está "diretamente ligado" aos efeitos dos atuais níveis da taxa de juros, fixada em 13,75% ao ano. Por outro lado, não acredita que a divulgação da Pnad possa influenciar a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) na próxima semana:
— Vemos a criação de emprego em taxas menores, a variação quando positiva era decrescente e isso mostra que os efeitos da elevação da taxa de juros estão ocorrendo em sua plenitude (frear economia para controlar a inflação). Mas passam a afetar em cheio o mercado de trabalho, pois a dose está descompensada.