Em meio à alta dos preços do café tradicional nos supermercados, uma nova alternativa tem gerado preocupação no setor cafeeiro. Trata-se da comercialização de produtos com "sabor café", mas que não contêm o grão torrado e moído em sua composição.
Para a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), conforme a Reuters, esses produtos, apelidados de "café fake" ou "cafake", podem confundir os consumidores.
Recentemente, a entidade identificou a venda de um pó com sabor café em Bauru, no interior de São Paulo. Esse tipo de produto pode ser fabricado a partir de cascas, palha, folhas ou outras partes da planta. Porém, não possui o grão do café.
Empresa alega regularidade
Entre as fabricantes desse tipo de produto está a Master Blends, com sede em Salto de Pirapora (SP), responsável pela marca Oficial do Brasil. A empresa afirmou à Reuters que o item não pode ser considerado um "café fake", pois se trata de um subproduto do café, com informações claras na embalagem.
O pó comercializado pela marca é composto por café e polpa de café torrado e moído, sendo descrito como uma "bebida à base de café".
A companhia também comparou a iniciativa a mudanças já vistas em outros setores da indústria alimentícia, como o leite condensado, que passou a ser vendido como mistura láctea, e os bombons com cobertura sabor chocolate.
Alta nos preços incentiva alternativas
Desde o ano passado, a indústria de café torrado e moído tem repassado aos consumidores os custos elevados da matéria-prima. Pela média da pesquisa de inflação do IBGE, a alta do café moído foi de 30,76% em 2024 na região metropolitana de Porto Alegre.
A seca em países produtores, com Vietnã, provocou alta desde o primeiro semestre do ano passado. As queimadas no sudeste e no centro-oeste do país também pioraram a situação dos cafezais.
O café cru, base do torrado e moído, atingiu patamares históricos de preço, tornando o produto final mais caro para o consumidor. Diante desse cenário, surgiram essas opções "mais acessíveis" no mercado.
Pedido de fiscalização
A Abic já denunciou a comercialização do produto ao Ministério da Agricultura e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), apontando preocupações tanto com a saúde dos consumidores quanto com a regulamentação de mercado.
Ja a Master Blends, por sua vez, afirma que tem autorização da Anvisa para comercializar o produto e que não precisa do aval do Ministério da Agricultura para distribuí-lo.
Essa presença de produtos alternativos no mercado não é uma novidade. Entretanto, segundo a Abic, desde 2022 não havia registros da comercialização de pós com sabor café em supermercados. No passado, a entidade lançou um selo de pureza para garantir a qualidade do café moído e evitar misturas com outros ingredientes.