O aumento do diesel decidido pela Petrobras na semana passada, depois de semanas de especulação, voltou a chamar atenção para a dependência do Brasil do preço internacional. A atual posição do Brasil de quinto maior produtor de petróleo do mundo – à frente dos Emirados Árabes Unidos – reforça a pergunta que sempre surge nesses momentos: se a produção nacional atende a quase todo o consumo, por que é preciso seguir a cotação internacional?
O motivo imediato é a dependência de diesel em volume, não só em preço. No ano passado, até houve ligeiro recuo das importações (-1,1%), porque uma regra tributária havia antecipado compras do Exterior no ano anterior. Mas como sempre que a atividade econômica aumenta – o crescimento do PIB em 2024 é estimado por volta de 3,5% –, o consumo de diesel também sobiu. E a dependência do que vem do Exterior segue em torno de um terço do total consumido.
E por que não se produz mais diesel? O petróleo é uma matéria-prima peculiar: ao ser refinado, rende gasolina e diesel, que têm valor mais alto, mas no processo sobram as frações mais pesadas, como coque, com baixo valor e baixa aplicação. Para obter a quantidade de diesel que falta, seria necessário fazer um investimento bilionário, com retorno abaixo do necessário para viabilizá-lo.
Mas esse não é o único motivo pelo qual o Brasil depende da cotação internacional, que não terminaria mesmo que fosse produzido internamente todo o diesel consumido no país.
Toda a indústria petrolífera é ancorada no preço global da matéria-prima. Isso significa que preços de equipamentos, máquinas e até serviços são atrelados ao valor internacional do barril. Se a cotação sobe, esses preços acompanham, e vice-versa.
Então, especialmente na fase de alta, se a Petrobras não acompanhar a variação, vai gastar mais do que recebe. Como o Brasil já viu esse filme e o final não é feliz, administrar uma alta tem custo político menor do que seria o de minar a estabilidade da maior empresa do país, estatal ou não.