O prejuízo acumulado por Gol e TAM de R$ 2,7 bilhões no ano passado leva o presidente da Gol, Paulo Kakinoff, a comparar o atual momento do setor aéreo ao dos anos 1990, quando grandes empresas mergulharam em dificuldades financeiras e ruíram.
Em palestra ontem no painel A Infraestrutura Pública é Gratuita?, no Fórum da Liberdade, Kakinoff afirmou que os gastos, principalmente com combustível, têm complicado as operações das empresas de aviação.
- O atual momento é como o de quando quebraram empresas tradicionais por questões de gestão, custos e nova concorrência. Nos últimos 18 meses, o combustível, que responde por 45% do custo, subiu 38%. Enquanto isso, a economia desacelerou e as tarifas médias caíram nos últimos 10 anos - informou Kakinoff.
Para o executivo, uma alternativa à alta dos combustíveis seria a redução de tributos cobrados. O querosene tem taxação de 47%. O esgotamento da estrutura dos aeroportos também coloca obstáculos, mas a visão de Kakinoff é de que a concessão dos terminais, iniciada em 2012 pelo governo federal, deve trazer resultados em médio prazo.
- É importante que esses programas mantenham a visão de longo prazo, para garantir que supram a necessidade do setor quando os investimentos estiverem prontos - disse Kakinoff, desde julho passado no comando da Gol.
O alto preço da falta de infraestrutura adequada
Também palestrante no painel, o economista e ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung apontou a união de governo e iniciativa privada como a única saída para os problemas de infraestrutura logística no Brasil:
- Infraestrutura tem preço, quem paga é o cidadão. São escolas sem equipamento, estradas em que as pessoas morrem e aeroportos que vão nos envergonhar na Copa do Mundo.
Para o economista espanhol Gabriel Calzada Alvares, a iniciativa privada, em razão de buscar o lucro, se torna mais eficiente do que os governos para escolher o formato dos investimentos:
- Quando o governo escolhe onde investir, leva em conta a popularidade do projeto, atingir os eleitores de algum local. Quando as empresas decidem, levam em conta a real necessidade dos investimentos.
Protecionismo encarece produtos
Em um momento em que se questiona por que os preços de produtos e alimentos são tão altos no Brasil, um debate sobre protecionismo apimentou a manhã de ontem no Fórum da Liberdade, realizado na PUCRS.
Conforme Hélio Beltrão, presidente do Instituto Mises Brasil, as restrições burocráticas ou tributárias a produtos trazidos de fora aumentam o valor de bens duráveis, alimentos e eletroeletrônicos.
O resultado é que o brasileiro desembolsa três vezes mais do que um americano para comprar um automóvel ou um tablet, por exemplo, e fica mais distante de mercadorias com alta tecnologia.
- O Brasil é o país com mais barreiras comerciais entre o G-20 (grupo formado pelas 20 economias mais fortes do planeta), e proporcionalmente (ao tamanho da economia) o que menos faz importações no mundo, conforme o Banco Mundial - afirmou Beltrão.
Randy Simmons, presidente do departamento de Ciência Política na Universidade Estadual de Utah, EUA, lembrou que o protecionismo não é exclusividade do Brasil, embora tenha destacado o país na 85ª colocação no ranking dos mais abertos no Fórum Econômico Mundial, atrás de todos os emergentes.
- O governo brasileiro resolveu que vocês iam ser pobres - afirmou, seguido de aplausos efusivos da plateia.
Para descontrair, Simmons brincou, ao mostrar slides em português, que se alguma coisa não fizer muito sentido, "a culpa é do Google Translator, não minha".
O contraponto do painel ficou por conta de Jorge Ávila, presidente do Instituto Nacional de Propriedade Industrial. Conforme Ávila, o governo brasileiro está derrubando uma cultura de que a indústria brasileira apenas sobreviveria sob proteção.
Entretanto, Ávila afirmou que alguns setores podem ser resguardados da concorrência dos importados até que ganhem força para competir globalmente. Citou o plano Brasil Maior, do governo federal, como uma tentativa de modernizar a indústria nacional com estímulos à pesquisa e ao desenvolvimento.