
O jornalista Mathias Boni colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Importantes indicadores divulgados nos últimos dias pelo IBGE dão pistas para compreender um pouco melhor o ritmo da atividade econômica do país neste início de 2025.
Nesta sexta-feira (14), o órgão publicou sua Pesquisa Mensal de Comércio, que analisa o volume de vendas do comércio varejista no país, referente ao mês de janeiro. A variação foi negativa, de 0,1%.
Já na quinta-feira (13), o instituto havia publicado os resultados da Pesquisa Mensal de Serviços, ainda referente a janeiro, também com variação negativa, de 0,2%. Na terça (11), o IBGE mostrou que a variação da produção industrial do primeiro mês do ano foi nula frente ao mês anterior. Para especialistas, os indicadores reforçam que a fotografia do momento atual da atividade econômica no país é de desaceleração.
— A gente já vinha observando uma desaceleração da atividade econômica desde os últimos meses de 2024, e esses dados de janeiro só reforçam isso. Por mais que ainda não sejam tão negativos, esses resultados já começam a preocupar, e deixam claro que já há um ritmo mais lento — destaca o analista econômico Rodolpho Tobler, do FGV IBRE.
Em relação ao índice do comércio, as vendas cresceram 3,1% em comparação com janeiro passado e acumulam elevação de 4,7% nos últimos 12 meses. Contudo, a variação negativa mensal de janeiro foi a terceira consecutiva, seguida por quedas de 0,3% em dezembro e 0,2% em novembro.
O cenário é semelhante nos dois outros setores destacados. Em serviços, houve crescimento de 1,6% em relação a janeiro de 2024 e há avanço de 2,9% no acumulado de 12 meses, mas o acúmulo desde novembro já apresenta perdas de 1,1%. Na indústria, o crescimento em relação a janeiro passado foi de 1,4%, o acumulado dos últimos 12 meses soma 2,9%, mas desde outubro a queda já chega a 1,2%.
— Observamos que há crescimento anual ainda, o que é positivo, apesar das quedas na margem, mas é um cenário que dá continuidade ao que já era observado a partir do fim do ano passado, com a demanda doméstica e o consumo desacelerando. No mínimo, podemos dizer que o começo de ano está misto em termos de indicadores, com alguns dados negativos e outros um pouco mais positivos — reforça Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo.
Em razão da alta da inflação no Brasil, o Copom deverá continuar aumentando o juro no país — um aumento de um ponto percentual já está praticamente confirmado para a próxima divulgação do grupo, que ocorre no dia 19 desse mês.
Esse aumento da taxa Selic tem justamente o objetivo de desincentivar a atividade econômica para tentar controlar a pressão inflacionária. Por outro lado, o governo federal tem buscado ações que estimulem essa atividade e o consumo, ainda mais um contexto de queda de popularidade da gestão.
— O governo está tentando estimular a economia com algumas medidas, como a do crédito consignado, por ter essa visão de que precisa manter o nível da atividade um pouco mais aquecido, para evitar um aprofundamento dessa desaceleração. Do ponto de vista da polícia econômica, o ideal seria agora buscar alguma sincronização com as medidas do Banco Central, pois quanto menos sincronizar a política fiscal com a política monetária, maior e por mais tempo vai ficar o impacto da inflação para a população — complementa Luciano da Costa.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo