
Aqui entre nós, que o governador Eduardo Leite não nos ouça, mas sua chance de vencer uma eleição presidencial neste Brasil polarizado é baixa, baixíssima. Por mais legítima que seja sua ambição, Leite tem tudo para fazer o papel de Simone Tebet em 2022: conduta civilizada, ideias sensatas e menos de 5% dos votos. Ou seja, o adulto na sala, enquanto o eleitorado senta o dedo em candidatos que se comportam como alunos da 5ª série quando o professor se ausenta.
Em teoria, Leite tem um perfil de primeira para concorrer. É ficha limpa, jovem mas experiente, transita bem por todas as classes sociais, tem boa comunicação e se mostra firme mas com capacidade de diálogo e negociação. Ganhou projeção nacional com sua liderança na maior catástrofe da história recente do Estado, deu uma ajeitada nas contas públicas e produziu uma cesta de obras e boas notícias, como a queda dos índices de criminalidade, sem brigar com Deus e o mundo.
Na prática, o eleitorado mostra — até agora — disposição para despejar votos em nomes como o cantor sertanejo Gusttavo Lima e em outras extravagâncias, como os pablos marçais da vida. Eles terão papel acessório em 2026, mas influenciarão o voto, assim como o inelegível Jair Bolsonaro. Neste cenário, tudo indica que teremos, de um lado, Lula disputando de novo, de novo, de novo a Presidência, a menos que seu governo naufrague de vez — por enquanto só tem rombos no casco. De outro, uma procissão de candidatos bem à direita, de onde deve sair um ungido para o provável segundo turno.
O fato de o PSDB ter se autodevorado não chega a ser a pá de cal na candidatura de Leite. Bolsonaro se elegeu pelo então inexpressivo PSL. Mas, ainda que Leite seja bancado por uma união com Solidariedade e Podemos, neste cenário poluído é pouco provável que um candidato de bons modos políticos consiga pôr o pescoço acima da multidão, como ocorreu com Germano Rigotto na eleição estadual de 2002, na qual se tornou um meteoro da moderação em um Rio Grande cansado de guerra. Com sua cordialidade e sensatez, Rigotto também sonhou com a Presidência, mas foi triturado por uma consulta interna do próprio partido, o PMDB, que o preteriu por Anthony Garotinho, bem conhecido em delegacias cariocas.
Resta a Leite a esperança de que nem só de esquisitices como Donald Trump e Javier Milei se alimente o eleitorado. Claudia Sheinbaum, à esquerda no México, e Giorgia Meloni, à direita na Itália, se tornaram chefes de governo com plataformas antagônicas, mas têm bom senso e são populares. Já os sistemas parlamentaristas de Polônia, Alemanha e Reino Unido escolheram moderados recentemente. No Brasil de hoje, como terceira via, a chance de Leite é baixa, baixíssima, mas também não é zero.