Em São Paulo, de fato, há muitas churrascarias, casas de costela e até de galeto, porém, sempre senti falta de um lugar que explorasse e de certa forma “homenageasse” os cortes suínos e todo o seu potencial gustativo. E finalmente, a minha espera chegou ao fim, pois A Casa do Porco Bar do chef Jefferson Rueda foi recém inaugurada no centro da capital paulistana e já começa sua jornada com a pata direita.
Já estive três vezes na casa. Na primeira vez, enfrentei 1h30min de espera no jantar, na segunda cheguei tarde demais para ser atendido e apenas na última, tive mais sucesso, pois estava em menos pessoas e sentamos rápido. Todas as vezes tinham fila de espera.
Felizmente, a casa pensou na sofrência que é esperar com fome e colocou um balcão de comidinhas rápidas como lanches e porções simples para degustar enquanto se toma uma bebida gelada.
E se o seu objetivo é apenas degustar uma boa carne de porco, acho que o balcão de comidas rápidas resolverá a sua vida com esse lanche (servido apenas lá fora) de porco desfiado assado com maionese, cebolas roxas, alface e tomate. Quando eu saí do jantar dentro do salão do restaurante, mesmo satisfeito até a tampa, com carne de porco saindo pelas orelhas, confesso que peguei um lanche no balcão e levei para comer no dia seguinte em casa. Me julguem! Valeu a pena!
Para acompanhar o seu lanche na espera ou as diversas opções de pratos no salão, pode-se ter o privilégio de tomar essa Horny Pig IPA, com amargor na medida, de macho, em uma refeição de mesmo título.
Caso esteja entediado esperando e quiser dar uma volta pelo exterior do restaurante, você se deparará com essa janela que tem vista para o meio do mezanino.
E também para a parte mais legal do universo, o açougue onde eles manipulam toda aquela quantidade colossal de carne de porco. Eventualmente dá até para ver um porco inteiro dentro dessa pequena sala.
Um tempinho se passou e a nossa mesa finalmente saiu. Ao adentrar vemos um salão de tamanho médio, sempre cheio com mesas de diversos tamanhos. O que é mais legal, tem algumas mesas compartilhadas para quem chega sozinho, mas curte uma companhia ou até para estimular uma interação entre estranhos.
Com uma decoração moderna em todo o interior da casa, distração é o que não faltará para os seus olhos.
Nas paredes vemos também uma pequena homenagem do chef a sua cidade natal, São José do Rio Pardo.
E também alguns utensílios clássicos de açougues.
Deixando o momento contemplativo de lado, pedi um item que considero essencial em todos os restaurantes que vou, um suco de tomate. E neste quesito A Casa do Porco não me decepcionou. O suco estava muito bem temperado, um pouco adocicado, com gelo na medida e boa apresentação. Uma boa dica também é pedir os refrescos do dia, neste em que fomos era de carambola com hortelã e estava muito bom (obviamente esqueci de tirar uma foto para colocar aqui... risos).
A partir de agora se iniciará uma sequência de entradas, pois de fato a casa tem muitas opções e uma mais atraente que a outra. Por favor, tentem não cansar de ver pratos com apresentações impecáveis e de sabor explosivo. Começamos com o Torremos de Pancetta + Goiabada, que PQP estava demais!
A goiabada só deixou melhor o torresmo que já era bom, as flores comestíveis com as cebolas roxas “só” deram o toque final para que essa entrada ficasse ainda mais incrível.
E não tem como não reparar nas louças iradas feitas de pedra sabão sob encomenda para A Casa do Porco, de muito bom gosto e que valorizam muito os pratos.
Na sequência, pedimos uma entrada de Costelinha de Porco + Arroz + Algas Marinhas servidas em uma Alface Romana e que estava um espetáculo! Apesar do sabor da costelinha claramente prevalecer, os demais ingredientes compõem de forma harmoniosa o prato, cada um entregando um pouco de frescor, textura e também sabor.
E não podia sair de lá sem experimentar o curioso Sushi de Papada de Porco e Tucupi Preto.
A papada tem um sabor exótico para o meu paladar, mas não deixa de ser uma delícia como um sushi, me surpreendi positivamente!
Já que o chef manja dos "paranaue" quando o assunto é embutido, não poderia deixar de provar uma das diversas opções do cardápio e fomos de Lardo.
Que nada mais é do que um embutido feito com gordura vinda da cabeça do porco. O primeiro contato é estranho, até porque a parada é gordura pura, porém, garanto que é bem saboroso.
Junto com o Lardo, afinal não é só de gordura que vive um homem, acompanha o delicioso pão que é feito na casa, mostarda em grãos com tucupi, picles em conserva e uma compota de cebola caramelizada com bacon (simplesmente fodástica)!
E para quem subestimou o potencial do Lardo, peço que o coloque em uma fatia de pão com a mostarda ou a compota por cima. Depois que fiz isso a coisa ficou séria e quase pedi um repeteco do Lardo que até com o picles em conserva ornou super bem!
Por último (finalmente, né?), pedimos a entrada que para o meu paladar foi a melhor do dia, o Pão no Vapor + Barriga de Porco + Cebola Roxa + Pimenta Fermentada!
A harmonia que os ingredientes trazem em cima desse pão feito no vapor e que chega a mesa morno, é impressionante! Tem o sabor defumado do porco, o doce da cebola roxa, o macio do pão e ainda a pimenta fermentada que só deixa a festa ainda melhor. Vale ressaltar que para quem não curte pimenta, essa definitivamente não é uma boa opção.
Enquanto os pratos principais não chegam, mais um momento de contemplação da casa. O bar fica bem no meio do salão e tem muitas opções de drinks, doses e rótulos, para chegar em casa com o SAMU de tão embriagado que dá para ficar.
Não deu para deixar de reparar na cozinha, que é completamente aberta para quem quer ver das mesas e bem na frente sempre está o chef Jefferson Rueda (presente em todas as minhas visitas) orquestrando a ocupada equipe com afinco e muito simpático com toda a tietagem por quem passa ali. Detalhe no porco quase inteiro na grelha!
Achei legais esses diversos objetos bem em cima da cozinha, todos em formato de porcos. Geniais!
E muito rapidamente começaram a chegar os pratos. Primeiro o Porco San Zé que é o carro chefe da casa. Praticamente todas as mesas pedindo essa carne suína de pele crocante e bem úmida. Para quem gosta de porco, realmente não há prato melhor no cardápio para suprir o seu paladar. Melhor que já comi até hoje.
Das duas opções de acompanhamentos, o soberano escolhido por todos é o delicioso tartar de banana, com couve fininha e crocante junto com o melhor tutu de feijão que já experimentei, que “grita” bacon na sua boca. Incrível!
Pedimos também o Lamen de Porco (vocês vão ver que tem vários itens no cardápio com influência oriental), que estava incrível e não deixa nada a desejar para as poucas casas especializadas no prato aqui em SP. O caldo muito bem temperado, as verduras bem consistentes, as fatias de porco nem preciso falar e o ovo com a gema mole tem a parte de fora da clara escura, provavelmente embebida no shoyu, assim como os clássicos ovos coloridos de boteco. Vale muito a pena experimentar!
Outra boa pedida, alias boa não, ótima pedida foi o Arroz de Suã (AHHH) - a onomatopeia está de verdade no cardápio mas não sei o real significado (esqueci de perguntar). Pensa em um prato que da primeira até a última garfada é prazeroso demais comer, pois é assim o Arroz de Suã! Que vai com muito molho, carne de porco (retirada próxima dos ossos do animal, perto do carret), grãos de bico, repolho e ervas. Foda demais, de voltar no lugar só para comer esse prato.
Por fim, pedimos a releitura do prato que o chef Rueda preparava no restaurante onde estava antes de inaugurar esse, o Porco 5 Versões. Que nada mais é do que uma de suas famosas linguiças que faz jus a fama. Estava realmente muito boa. O codeguim que é um pouco mais exótico e bem condimentado, o medalhão com bacon que estava excepcional, a costelinha perfeita bem pururucada e a pancetta como toda a pancetta deve ser, também pururucada e com carne e gordura na medida. Tudo isso acompanhando um purê de abóbora muito saboroso.
Para adoçar a boca depois de tanta proteína e gordura, fomos de Bolinho de Chuva + Chocolate + Sorvete de Creme. Que sendo bem sincero estava gostoso, mas nada demais comparado a tudo o que comemos até então. E acredito que não seja nem o foco já que são poucas opções de sobremesas que ocupam um espaço mínimo no cardápio.
Pedimos também um Pudim de Leite com chantilly de caramelo + Algodão Doce, que tirando a bela estética também reforça a minha opinião quanto ao foco da casa se comparar salgados x doces.
E não podíamos terminar a nossa experiência incrível sem tomarmos um legítimo café coado na mesa, feito com grãos que segundo o garçom apenas A Casa do Porco e o Bar da Dona Onça (da esposa do Chef Rueda) tem em toda a São Paulo. Como café para mim é apenas para me manter acordado, no começo duvidei que tal produto fosse me surpreender, até prova-lo! O aroma traz bacon defumado (é verdade, juro), o liquido caí muito leve na boca, com sabor sutil e caramelizado, impressionante! Nunca tomei um café assim na vida! De acompanhamento vem um pedaço de queijo e bala de doce de leite com bacon, que só deixam o café ainda melhor. Na bala dá para sentir claramente o sabor do doce de leite junto com o bacon. Demais!
Na saída, dá para comprar alguns produtos utilizados nos pratos da casa, como compotas, doce de leite, geleias e até linguiças ou cortes suínos feitos pelo chef.
Depois de provar pratos incríveis, com apresentações impecáveis, ótima estrutura e atendimento, a conta dividida entre 4 pessoas deu para cada um R$ 116,32.
A Casa do Porco Bar
Rua Araújo, 124 - Centro
São Paulo/SP
Fone: (11) 3258-2578
Aceita todos os cartões
Facebook.com/acasadoporcobar
* Conteúdo produzido por Felipe Sakai