Uma das artistas mais aguardadas do primeiro dia do Planeta Atlântida, Anitta chegou à Saba com pompa de estrela internacional nessa sexta-feira (31). Muito assediada por onde passava, a cantora fez um show recheado de hits.
O que pouca gente sabe é que, para aguentar o ritmo frenético de apresentações como a do festival, uma pessoa muito importante trabalha nos bastidores: a fonoaudióloga. Nesse caso, a gaúcha Djeniffer Santos, contratada no começo do ano para integrar a equipe da cantora. É ela a responsável por todo o trabalho vocal pré e pós-palco de Anitta.
Nascida e criada na Restinga, zona sul de Porto Alegre, Djeniffer Santos deu os primeiros passos em busca dos seus sonhos muito cedo e, hoje, aos 34 anos, carrega uma trajetória marcada pelo sucesso e dedicação. Quando criança, frequentava a quadra da escola de samba Estado Maior da Restinga, dando indícios de que esse seria seu caminho no futuro. Foi ali que, dos 12 aos 27 anos de idade, fez parte da bateria da agremiação e foi também ali onde descobriu a profissão que queria exercer: fonoaudiologia.
— A vida toda eu achava que seria mestre de bateria. Só que o tempo foi passando e eu sempre fui apaixonada pelo Rio de Janeiro. Falava: "Quero morar no Rio". Mas, para morar lá, eu precisava ter uma profissão — recorda.
O incentivo que faltava veio em 2011, quando a Estado Maior, com o enredo A Restinga Multirracial Celebra a África de Mandela na Festa do Carnaval, contratou o carioca Wander Pires para ser seu intérprete, consagrando-se campeã daquele ano:
— Ele (Wander Pires) sempre dizia que precisava de uma fonoaudióloga para cuidar da voz. Eu fui pesquisar sobre fonoaudiologia e percebi que o fono poderia trabalhar com cantores de escolas de samba. Pensei: "É essa a profissão que eu quero ter".
Decidida em relação ao que queria ser, Djeniffer entrou para a Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) em 2013 e se formou em 2017. Durante esse período, conseguiu trabalhar como preparadora vocal de vários intérpretes do Carnaval da capital gaúcha, como o próprio Wander Pires, Renan Ludwig – em uma de suas passagens pela Estado Maior da Restinga – e Everton Rataescki, que, na época, cantava na Império da Zona Norte. O trabalho de conclusão de curso (TCC) foi sobre o tema: uma pesquisa com 100 cantores de São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.
Chegada ao Rio
Um dos sonhos estava realizado. Agora, faltava correr atrás de outro: o de morar no Rio de Janeiro. Em setembro do mesmo ano em que concluiu a faculdade, a jovem vendeu tudo o que tinha onde morava, no Jardim Paraíso, e partiu para a Cidade Maravilhosa levando na mala apenas roupas e livros.
Mas nem tudo foi tão maravilhoso logo de início. Além de não ser conhecida fora do Rio Grande do Sul, a recém-formada fonoaudióloga – já com uma especialização em voz artística – passava de quadra em quadra entregando panfletos sobre seu trabalho.
— Me deu medo, por ter ido na cara e na coragem. Mas tinha fé, e as coisas deram certo. Comecei (no Rio de Janeiro) trabalhando com os cantores das escolas de samba — destaca.
Mais um sonho realizado, e que começava a tomar grandes proporções. No entanto, um percalço: a pandemia, que afetou o mercado da música devido ao cancelamento de shows, festivais e espetáculos. Angustiada com a incerteza sobre o futuro, Djeniffer foi atrás de um plano B:
— Fiz um curso de barbearia. Mas, no meio disso tudo, conheci a Jojo Todynho. Trabalhei com ela na gravação do álbum de pagode (Jojo Como Você Nunca Viu). Ela me deu uma visibilidade muito grande no Instagram e várias pessoas me conheceram. Aí, de fato, as coisas voltaram a acontecer e deixei a profissão de barbeira.
O medo de uma nova pandemia fez com que a gaúcha buscasse, ainda, um plano C. Hoje, ela está no oitavo semestre da faculdade de fisioterapia — também como uma forma de complemento ao trabalho da fonoaudiologia, para questões como adequação postural e recuperação dos cantores.
Especialista em trap
Com o rumo novamente alinhado, foi a hora de se aventurar em um novo desafio: o de atender artistas do trap. Djeniffer ficou por três anos na equipe de MC Maneirinho e, por intermédio dele, trabalhou com Filipe Ret, Caio Luccas, Major RD, L7nnon, MC Daniel, entre outros nomes. As vivências com os artistas do gênero se estenderam no mestrado ao qual Djeni foi convidada para fazer em 2023, na Universidade Federal do Rio de Janeiro: uma pesquisa multidimensional sobre cantores de rap e trap.
Conhecida entre os grandes da música brasileira, o extenso currículo da profissional ainda inclui Ludmilla – uma de suas primeiras clientes, com quem voltou a trabalhar durante o Rock in Rio do ano passado –, Preta Gil, Mumuzinho, Naldo Benny, Liniker, Gica, Xamã... Recentemente, depois de ter trabalhado com a cantora Rosiane Brasey no Carnaval de 2019 do Rio de Janeiro, ela foi convidada a acompanhar uma gravação da artista na Abbey Road, em Londres – um dos estúdios mais famosos do mundo por ter sido utilizado pelos Beatles.
Djeniffer, que busca estar sempre aprimorando seus conhecimentos — ela já fez mais de 100 cursos voltados para a área da voz —, revela o "segredo" para chegar ao sucesso:
— O estudo mudou a minha vida. Na adolescência, eu não gostava de estudar, só queria ficar batucando. Quando eu estava na bateria na Restinga, o Mestre Guto só deixava a gente desfilar se tivesse nota boa na escola. Isso me motivou muito. Quando decidi virar fonoaudióloga, vi o quanto o estudo mudou a minha vida. Hoje, eu moro no Rio de Janeiro, tenho meu carro, consigo me manter, conheci vários lugares no Brasil e no mundo... Conquistas que o estudo me proporcionou.