
O Conselho Universitário (Consun) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) aprovou a concessão do título de Doutor Honoris Causa ao cantor e compositor Gilberto Gil.
A decisão, ocorrida na sexta-feira (28), levou em consideração o currículo notável e a relevância histórica de Gil, além do amplo reconhecimento, tanto nacional quanto internacional, pelas atividades artísticas, políticas e intelectuais.
O conselho também destacou a postura ética do artista na defesa da democracia e da diversidade em diferentes contextos e espaços.
A proposta foi elaborada pelo Departamento de Antropologia e encaminhada ao Consun pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). A data da entrega do título ainda não foi definida.
Perfil e parecer
O parecer do Consun aborda a trajetória de Gilberto Passos Gil Moreira, nascido em Salvador (BA), em 26 de junho de 1942, ressaltando o início da carreira artística, os primeiros trabalhos fonográficos e a formação na Universidade Federal da Bahia.
O documento também destaca a mudança para São Paulo e para o Rio de Janeiro na década de 1960, ao lado de Caetano Veloso, Maria Bethânia, Tom Zé e Gal Costa. Nas duas cidades, participou dos principais festivais de música da época.
Ao longo da carreira, Gil gravou 17 LPs e nove CDs de estúdio, além de álbuns coletivos, trilhas sonoras e gravações ao vivo, sem contar as centenas de apresentações realizadas em diversos países.
“Gilberto Gil utilizou a canção popular como veículo privilegiado para difundir protestos, inquietações e reflexões de abrangência intelectual incomum. Sua poesia e seus posicionamentos públicos foram exemplares, ao longo de todos esses anos, na defesa da democracia, da diversidade e das diferenças”, aponta o parecer.
Prisão e exílio
O texto do Consun também enfatiza a liderança de Gil na Tropicália e a coragem ao produzir obras de vanguarda durante o período mais repressivo da ditadura civil-militar, o que resultou em sua prisão e exílio em 1968.
“Em vez de calar-se, o músico continuou suas atividades nos anos seguintes, denunciando, no exterior, aquilo que se passava no Brasil”, sustenta o parecer.
O documento segue abordando a trajetória do artista na gestão pública, com destaque para o período em que ocupou o cargo de ministro da Cultura, de 2003 a 2008, no primeiro mandato do presidente Luís Inácio Lula da Silva.
Durante os cinco anos em que esteve à frente da pasta, Gil concebeu e implementou diversas políticas públicas voltadas à valorização da diversidade artística, cultural e étnica, segundo o Consun.
Entre as iniciativas citadas destacam-se o Sistema Nacional de Cultura, a reformulação da Lei Rouanet, o Plano Nacional de Cultura, o Vale-Cultura e, especialmente, o Programa Cultura Viva — Pontos de Cultura.
“Sua maior contribuição para a política cultural brasileira está na reformulação radical do próprio objeto e do âmbito de atuação da mesma, uma vez que Gil trocou a noção elitista e restrita de cultura que marcara o ministério até aquele momento, por uma definição mais ampla do termo, tomada de empréstimo, exatamente, da Antropologia.”, aponta o parecer.
Outras distinções
Ao longo de sua carreira, Gil recebeu diversas distinções nacionais e internacionais, entre elas a Ordre de Arts et de Lettres (1990) e a Légion d’honneur do governo francês (2005), além da Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, concedida pelo governo português (2005).
No Brasil, foi agraciado com algumas das mais altas honrarias do Estado, como a comenda da Ordem de Rio Branco (1990), a Ordem Nacional do Mérito (1997) e a Ordem do Mérito Cultural (1999).
Além disso, recebeu diversos prêmios musicais e títulos concedidos pela Unesco, como Artista pela Paz (1999) e Embaixador da Boa Vontade da FAO (2001). Desde 2022, Gilberto Gil também integra a Academia Brasileira de Letras.