
O escritor peruano Mario Vargas Llosa morreu neste domingo (13), aos 89 anos, em Lima, no Peru. A morte do autor foi anunciada nesta noite pelo filho, Álvaro, nas redes sociais.
"É com profundo pesar que anunciamos que nosso pai, Mario Vargas Llosa, faleceu hoje em Lima, cercado pacificamente por sua família", escreveu na publicação.
A causa da morte não foi divulgada. De acordo com a publicação, não haverá cerimônia pública de despedida.
"Sua partida entristece seus parentes, amigos e seus leitores ao redor do mundo, mas nos consola saber que ele teve uma vida longa, múltipla e frutífera, e deixa atrás de si uma obra que o sobreviverá", diz a nota.
"Agradecemos de coração o carinho e o apoio recebidos e pedimos que sejam respeitadas nossas instruções. Não haverá nenhuma cerimônia pública. No momento da despedida final, nossos pensamentos estarão com todos que o leram e o admiraram. Após o adeus em família, seus restos, conforme sua vontade, serão cremados", completa o comunicado divulgado por Álvaro.
Entre as premiações e homenagens que acumulou em vida, Vargas Llosa foi vencedor do prêmio Nobel de Literatura em 2010. Na época, a Academia Sueca, que organiza o evento, destacou que ele recebeu a condecoração "por sua cartografia de estruturas de poder e suas imagens vigorosas sobre a resistência, revolta e derrota do indivíduo".
Em entrevista a Zero Hora em 2016, ele falou sobre as mudanças que o Nobel trouxe para sua vida:
— Bom, de um lado, o Nobel faz de você uma figura muito pública, e é preciso se defender mais para ter tempo e poder trabalhar e escrever. E depois, há essa ideia generalizada de que o Prêmio Nobel é como a morte do escritor, ele é entronizado e morre. Estou fazendo todo o possível para provar que não é o meu caso, que estou vivo, apesar do Nobel (risos).
Ao longo da carreira, também venceu o Prêmio Príncipe de Asturias de Letras em 1986 e o Prêmio Miguel Cervantes em 1994. Também passou a integrar a Academia Francesa de Letras em 2023 (sem nunca ter escrito em francês). Além disso, ele era membro da Real Academia Espanhola, da peruana e sócio-correspondente da Academia Brasileira de Letras (ABL).
Um dos nomes mais expressivos da literatura latino-americana, Llosa escreveu mais de 30 livros, entre romances e ensaios, fora as peças teatrais. Ele é apontado como um dos protagonistas do "boom latino-americano", ao lado de nomes como o colombiano Gabriel García Márquez, o argentino Julio Cortázar e o mexicano Carlos Fuentes, nas décadas de 1960 e 1970. Essa geração costuma se reverenciada como aquela que pôs a América Latina no mapa da literatura.
A trajetória de Llosa
Llosa nasceu na cidade de Arequipa, no sul do Peru, em 28 de março de 1936. Filho único de uma família de classe média. Logo após seus pais se separarem, quando tinha apenas um ano, ele passou a ser criado pela mãe e pelos avós maternos em Cochabamba (Bolívia) e, depois, no retornando ao Peru.
Sua prolífica carreira literária despontou em 1959, quando publicou seu primeiro livro de contos, Os Chefes. Ampliou sua notoriedade com o romance A Cidade e os Cachorros, em 1963, seguido de A Casa Verde (1966). Logo, o romance Conversa na Catedral (1969) solidificou seu prestígio.
Seu último romance foi publicado em 2023, intitulado Dedico a Você Meu Silêncio.
Ao longo de sua vida, Llosa sempre expôs sua visão identificada com o liberalismo, costumeiramente sendo crítico aos governos de esquerda. Em entrevista a Zero Hora, por exemplo, Llosa citou os casos de corrupção envolvendo a esquerda brasileira.
— Essa corrupção é um dos males endêmicos da América Latina, presente em todas as partes, e esse é um dos temas que devemos enfrentar de maneira mais enérgica, porque pode minar as instituições e as bases do sistema democrático — afirmou.
No campo político, ele também chegou a concorrer à presidência do Peru em 1990 pelo partido Movimiento Libertad. Porém, foi derrotado por Alberto Fujimori no segundo turno.
Conforme o jornal peruano El Comercio, o escritor esteve acompanhado de sua ex-esposa, Patricia Llosa Urquidi (os dois se divorciaram em 2015, após 50 anos e relação), até seus últimos dias. Teve três filhos: Álvaro, Gonzalo e Morgana Vargas Llosa, além de oito netos.