Movida pela idéia de transformar suas fotos em versos, a fotógrafa Maris Strege criou um desafio cultural que revelou o talento de poetas então anônimos na cidade de Guaíba. O projeto resultou em uma exposição com mais de 30 trabalhos que combinam imagens e palavras, em cartaz até o dia 21 de agosto no Campus da Ulbra de Guaíba. Outras imagens da mostra ainda estão à espera de suas inspiradas rimas – a que emoldura a antiga casa de Gomes Jardim, local histórico da Revolução Farroupilha, por exemplo, ganhou a poucos dias a companhia de seu respectivo texto.
Maris diz que o trabalho surgiu como uma brincadeira lançada a amigos e admiradores de seus registros. A interação proposta pela fotógrafa ganhou fôlego nas redes sociais e estimulou um diálogo inédito para a estudante Pietra Olsen, 20 anos, que primeira vez escreveu um poema:
– Fora de minha rotina, me senti desafiada a fazer o que eu nunca fiz.
Azul. Vermelho. Laranja. Amarelo.
Muitas cores em um só céu.
Como todos somos
Muitas cores em um só corpo,
Cada cor um sentimento, um sentido.
Como no céu,
Cada um vê cores diferentes.
Sentidos diferentes, sentimentos diferentes
Em ações e reações diferentes,
Dias diferentes.
Cada ser com seus sentimentos,
Cada dia com suas cores,
Nunca todas as cores ou sentimentos
Ao mesmo tempo.
Cada dia cores diferente.
Cada dia sentimentos diferentes.
Em pessoas e céus diferentes.
Pietra Olsen
O contato da profissional com o público ocorreu de forma gradativa. Mari começou a tirar fotos de Guaíba em 2013 e não largou mais suas máquinas e lentes.
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Para o professor Renato Lacerda Isquierto, 32 anos, a ação o desafiou a pensar sobre esperança.
– A cidade é conhecida por sua beleza, mas ainda encontro problemas sociais em suas comunidades. A esperança na felicidade continua nos bairros carentes.
Que Deus queira...
Que Deus queira...
que os bêbados retornem às suas casas,
que as estrelas não caduquem sozinhas no céu,
que o menino, que atravessa a rua
também atravesse todas as dores do caminho,
que haja mais pontes nas cidades,
mais pontos de encontro nos corações,
mais mãos dadas nas ruas,
mais conversa gostosa entre os amigos,
mais beijos trocados entre os namorados.
Que Deus queira...
que este poema não nasça e morra em vão,
que a utopia do escritor jamais perca o brilho,
que haja mais livros nas estantes,
mais histórias na imaginação do leitor.
Que Deus queira...
que você queira, que eu queira, que todos queiram...
que haja mais balões coloridos pelas ruas,
mais alegria nas paredes das casas, nas capas das revistas matinais,
nos capítulos da vida real.
E que Deus queira...
que o vento não separe as folhas,
que a família se aqueça no amor
e que haja pontes invisíveis entre estas simples palavras
E o coração de quem as ler.
Que Deus queira... que assim seja!
Renato Lacerda Isquierdo
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Um dos ângulos que mais estimula a inspiração dos novos poetas é a silhueta de Porto Alegre registrada por Maris a partir da Avenida João Pessoa, popular ponto turístico de Guaíba. A fotógrafa planeja levar a exposição, intitulada Desafio Cultural, para outros espaços do município, com prioridade para escolas.