O Espaço Cultural do Hotel Praça da Matriz, pertinho do Theatro São Pedro, no centro histórico da Capital, hospeda, a partir desta quarta-feira (2) a exposição Pintura à Deriva. São mais de 20 telas inéditas de Eduardo Vieira da Cunha, baita artista gaúcho, ex-professor do Instituto de Artes da UFRGS.
O evento integra o projeto Portas para a Arte, da Bienal do Mercosul.
Mas por que à deriva?
— São pinturas que eu fiz durante a enchente do ano passado e logo depois. O tema não tem a ver com a cheia, mas com o estado de espírito de ficar ilhado no atelier, sem poder sair por uns dias. Por isso chamei de "Pintura à deriva". Meu atelier fica na Rua Coronel Vicente. Tudo em volta estava boiando, à deriva. A água não chegou até ali, mas estava por todos os lados. Só restava trabalhar e tentar ajudar os que realmente precisavam — conta o pintor.
Durante o período, Vieira da Cunha também pintou 14 telas para o livro "Por que ler os clássicos?", de Daniel Mitidiero (Editora Thomson Reuters), ainda inédito.
— A experiência foi sensacional — diz o artista.
A abertura da mostra será às 18h no local. A partir de quarta, a visitação ocorre sempre das 10h às 18h, de segundas a sextas-feiras, de graça. A exposição fica em cartaz até 30 de abril.
Sobre a mostra
O porto-alegrense Eduardo Vieira da Cunha tem 51 anos de carreira e já expôs cidades como Nova York, Paris e Londres.
É pintor, desenhista, fotógrafo, escultor, gravador, pesquisador, museólogo e foi professor do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) de 1985 a 2024.
Em breve, retomará a atividade acadêmica como professor convidado do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFRGS.
Ele não realiza uma exposição individual desde 2022. Vai por mim: vale prestigiar a nova mostra.
O Espaço Cultural do Hotel Praça da Matriz (HPM)

Inaugurado como imóvel residencial no final da década de 1920, o palacete do Largo João Amorim de Albuquerque abriga há quase 50 anos o Hotel Praça da Matriz.
O empreendimento passou por revitalização e, sob o comando da família Patrício desde 2014, hospeda anônimos e famosos, além de abrigar o Espaço Cultural HPM.
No foco estão exposições, saraus, lançamentos de livros e outros eventos, em parceria com a empresa Práxis Gestão de Projetos.
A origem do imóvel remonta a Luiz Alves de Castro (1884-1965), o “Capitão Lulu”, dono do cabaré-cassino Clube dos Caçadores, instalado de 1914 a 1938 na Rua Andrade Neves (a poucas quadras dali) e enaltecido por cronistas e escritores como Erico Verissimo.
A fortuna amealhada pelo empresário com a atividade ainda bancou, na mesma época, a construção do imponente edifício que hoje sedia o Espaço Cultural Força e Luz (na Rua da Praia).
Contratado por Lulu, o engenheiro e arquiteto teuto-gaúcho Alfred Haasler projetou quatro andares com subsolo, pátio interno e dois diferenciais naquele tempo: garagem e sistema francês para calefação de água, tudo em estilo eclético, com mármores, azulejos e outros materiais importados.
O conjunto está inventariado como de interesse histórico pelo município. Foi contemplado com o programa Monumenta, permitindo a recuperação de fachada, cobertura e estrutura elétrica.
O proprietário não teve tempo para aproveitar tamanho requinte, pois migrou no início da década de 1930 para o Rio de Janeiro, ampliando atividades (foi sócio do Cassino da Urca e dono de diversos empreendimentos).
Com o decreto federal que em 1946 proibiu os jogos-de-azar, Lulu se desfez do seu patrimônio em Porto Alegre. O palacete junto à Praça da Matriz – até então alugado a terceiros – trocou de mãos até ser adquirido em 1949 por um comerciante cuja nora, Ilita Patrício, mantém hoje o estabelecimento hoteleiro.