
Era clima de Copa do Mundo, e o resultado fez o Brasil vibrar como quando o italiano Roberto Baggio perdeu aquele pênalti em 1994. Explosões de gritos e abraços se espalharam pelo país justamente em meio ao Carnaval. Ainda Estou Aqui fez história neste domingo (2) e conquistou o Oscar de melhor filme internacional.
Representando o Brasil, Ainda Estou Aqui concorria com A Garota da Agulha (Dinamarca), Emilia Pérez (França), A Semente do Fruto Sagrado (Alemanha) e Flow (Letônia).
O diretor do longa, Walter Salles, recebeu a estatueta das mãos da atriz espanhola Penélope Cruz. Em seu discurso, o cineasta dedicou o prêmio a Eunice Paiva, advogada que inspirou Ainda Estou Aqui:
— Obrigado em nome do cinema brasileiro. Estou tão honrado em receber isso em um grupo tão extraordinário. Isso é para uma mulher, que durante um luto em uma ditadura militar, decidiu não ceder. O nome dela é Eunice Paiva. Isso também vai para duas mulheres extraordinárias que deram vida a ela: Fernanda Torres e Fernanda Montenegro. Vocês são demais. Isso é extraordinário. Muito obrigado!
Euforia pelo Brasil
A euforia tomou conta dos brasileiros com o anúncio da vitória. Na verdade, antes mesmo da cerimônia o clima era de empolgação por todo o país. Nos blocos e festas de Carnaval que ocorreram este ano, já era possível perceber muitas foliãs fantasiadas de Fernanda Torres com o Oscar ou referenciando a carreira da atriz.
Na noite desse domingo, grupos de amigos e familiares se reuniram para assistir ao Oscar — seja em casa, em bares, em espaços públicos ou até em cinema — em Porto Alegre, a Cinemateca Capitólio transmitiu a cerimônia. Era uma parte do Brasil unida em comunhão.
Quando Ainda Estou Aqui foi anunciado, um grito preso na garganta foi solto pelo Brasil. Muita gente extravasou, chorou, abraçou quem estava próximo. Foi o momento de sentir orgulho de ser brasileiro através da arte.
Ainda no tapete vermelho, Fernanda Torres definiu:
— É um filme que furou até a bolha da própria cultura. Ele moveu coisas reais no mundo (...) Acho que as pessoas sentem isso.
Primeiro Oscar do Brasil
Foi uma conquista inédita: pela primeira vez, uma produção representando o Brasil recebeu a estatueta. O longa dirigido por Walter Salles quebrou um tabu para o país.
Antes, houve um "cheirinho" na cerimônia realizada em 1960, quando Orfeu Negro venceu na categoria de longa estrangeiro. Filmado no Brasil, falado em português e com brasileiros no elenco, o filme era uma coprodução que envolvia França e Itália. Porém, a estatueta ficou para o país do diretor, o francês Marcel Camus.
Ainda Estou Aqui é inspirado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva. O filme narra a trajetória da família do autor após seu pai, o ex-deputado Rubens Paiva (vivido por Selton Mello), ser sequestrado e morto pela ditadura militar.
A adaptação ao cinema foca especialmente na mãe do escritor, Eunice Paiva, que é interpretada por Fernanda Torres, premiada no Globo de Ouro pelo papel.
Além de melhor filme internacional, Ainda Estou Aqui concorria nas categorias de melhor atriz, com Fernanda Torres, e melhor filme. No entanto, a estatueta de atuação ficou com Mikey Madison, por Anora — longa que também foi contemplado com o prêmio máximo da Academia.