
Duas torcidas foram as campeãs de barulho e empolgação no Oscar 2025: a do Brasil por Ainda Estou Aqui e Fernanda Torres e a da Letônia por Flow: À Deriva (Straume, 2024), que venceu a categoria de melhor longa-metragem de animação e que entra nesta segunda-feira (14) no menu do canal Filmelier+ do Amazon Prime Video.
Flow foi o primeiro filme da Letônia a receber uma indicação ao Oscar. A trajetória vitoriosa provocou uma onda de orgulho na ex-república da União Soviética que reconquistou sua independência em 1990.
Trata-se de um pequeno país (124º do mundo em área, com 64,5 mil quilômetros quadrados, e 146º em número de habitantes, 1,8 milhão) banhado pelo Mar Báltico.

Após a conquista do Globo de Ouro de melhor filme de animação, concedido em janeiro pela Associação de Imprensa Estrangeira em Hollywood, o diretor de Flow, Gints Zilbalodis, recebeu o título de Cidadão do Ano em Riga, a capital da Letônia. O troféu trazido dos Estados Unidos foi exibido no Museu Nacional de Arte.
O mesmo aconteceu com o Oscar, que gerou longas filas: pessoas esperavam mais de uma hora para ver de perto a cobiçada estatueta dourada.

A maior homenagem, pelo menos em tamanho, foi a transformação do gato protagonista de Flow em uma escultura em 3D, pelo artista Kristaps Andersons. A estátua foi instalada em frente ao Monumento da Liberdade, em Riga, e depois transferida para a Praça da Prefeitura, onde deve permanecer exposta até o final do ano.
No cinema letão, Flow tornou-se o recordista de público, com mais de 300 mil ingressos vendidos, superando A Outra Face da Guerra (2019). No mundo, sua bilheteria alcançou US$ 27,5 milhões. Ou seja, mais de oito vezes o seu custo (US$ 3,7 milhões).
A história de "Flow"

O diretor letão Gints Zilbalodis, que escreveu o roteiro de Flow com Matiss Kaža, se inspirou na gatinha da sua infância, Josefine, para criar a personagem principal.
O filme foi produzido ao longo de cinco anos e meio usando um software de animação gratuito, o Blender. O visual é predominantemente realista — no desenho dos personagens e cenários —, mas há um quê de onírico na movimentação, que é bastante fluida.
A trama acompanha a luta por sobrevivência de um gato, um cachorro, uma capivara, um lêmure e uma ave de rapina durante uma enchente.
O elenco de personagens remete a uma fábula sobre tolerância, empatia e cooperação entre povos diferentes. Não há diálogos, o que aumenta seu encanto e sua universalidade, além de ter contribuído para a ótima receptividade nos EUA, já que não há a "barreira" das legendas.
Alerta para Disney e Pixar

A vitória de Flow no Oscar de melhor longa de animação pode ter acendido um alerta na Disney e na Pixar, estúdios que dominam a categoria.
Desde que a Academia de Hollywood instituiu o prêmio, em 2002, a Pixar já conquistou 11 vezes a estatueta dourada. Na segunda colocação, aparece a Walt Disney Animation Studios, com quatro.
Mas 2025 é o terceiro ano seguido em que nenhum desses estúdios ganha o Oscar. Aliás, pelo terceiro ano consecutivo sequer chegaram com pinta de favorito.
Em 2023, Pinóquio por Guillermo Del Toro, da Netflix, venceu todos os prêmios prévios e confirmou seu favoritismo no Oscar.
Em 2024, a disputa estava entre Homem-Aranha Através do Aranhaverso, da Sony, e O Menino e a Garça, do Studio Ghibli, que acabou valendo ao mestre japonês Hayao Miyazaki seu segundo Oscar — o anterior foi por A Viagem de Chihiro (2001).
Em 2025, Disney e Pixar viram Flow e Robô Selvagem, da DreamWorks, dominarem os prêmios.
Há traços comuns entre os três últimos ganhadores.
Para começo de conversa, são assinados por cineasta de fora dos EUA, ou seja, trazem um olhar estrangeiro, embora o mexicano Del Toro já esteja há bastante tempo trabalhando em Hollywood. E não são exatamente aqueles filmes para toda família que misturam aventura, comédia e drama.
O Pinóquio por Guillermo Del Toro é um conto sombrio ambientado na Itália fascista de Mussolini.
O Menino e a Garça evoca a infância de Miyazaki, marcado profundamente pelos bombardeios que obrigaram sua família a evacuar duas cidades durante a Segunda Guerra Mundial.
E Flow recusa a habitual antropomorfização: sequer há diálogos entre os personagens. Essa opção por retratar os animais com seus instintos primitivos (eles caçam, por exemplo, e podem ser agressivos) convida o espectador a exercer mais sensibilidade no seu olhar, dado que as emoções não são explicitamente expressas, como costuma ocorrer nos títulos da Disney e da Pixar.
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