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O jornalista Henrique Ternus colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço.
Ao saber que o ex-presidente Jair Bolsonaro mandou o tenente-coronel Mauro Cid vender dois relógios de luxo para pagar indenização devida a ela, a deputada Maria do Rosário (PT-RS) reagiu. Em nota, a deputada afirmou ser "estarrecedor e imoral" ler o trecho da delação de Cid que se refere à venda de relógios de luxo para pagar a indenização e multas por andar de moto sem capacete.
"É estarrecedor e imoral ler a denúncia de que para pagar o valor ao qual foi condenado pela Justiça, Bolsonaro tenha colocado à venda joias que pertenciam ao Brasil. Foram R$ 10 mil, mais R$ 10 mil de multa e juros por atraso (além de criminoso, caloteiro), totalizando 20 mil reais, que nem ficaram comigo, pois doei para instituições que combatem a violência contra mulheres", escreveu Rosário. A deputada acrescentou: "Esse fato só reforça que esse tipo de gente busca sempre dar um jeito de pagar suas próprias contas desviando dinheiro público, usando dinheiro de joias, rachadinha, Queiroz".
A informação sobre o motivo alegado por Bolsonaro para a venda das joias consta na delação premiada do tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que teve o sigilo derrubado na manhã desta quarta-feira (19).
Cid revelou à Polícia Federal (PF) que vendeu joias recebidas como presentes institucionais pelo então presidente a pedido dele, e lhe entregou em mãos US$ 86 mil. Entre os itens vendidos, estão relógios de luxo das marcas Rolex e Patek Philippe, comercializados por US$ 68 mil na Filadélfia, e um kit de joias Chopard de ouro branco, vendido por US$ 18 mil em Miami. O dinheiro foi trazido dos Estados Unidos em espécie de forma fracionada e entregue a Bolsonaro.
Na delação, o ex-ajudante de ordens revelou que Bolsonaro começou a falar sobre a venda de itens recebidos de autoridades estrangeiras (a maioria durante viagem à Arábia Saudita, em 2019) no final de 2021. Por terem sido presentes oferecidos durante viagens oficiais, as joias deveriam compor o acervo presidencial, segundo a lei.
No início de 2022, Bolsonaro estava se queixando do valor a ser pago para Maria do Rosário, na ação em que era réu por injúria, após ter dito em duas ocasiões no ano de 2014 que a deputada não merecia ser estuprada porque a considerava "muito feia". Bolsonaro também reclamava das multas recebidas por não usar capacete durante suas motociatas.
Após as queixas, Cid recebeu ordem de Bolsonaro para verificar quais os presentes de alto valor que havia recebido em razão do cargo, e identificou que os itens "mais fáceis de mensurar o valor seriam os relógios".
"No começo de 2022, o presidente JAIR BOLSONARO estava reclamando dos pagamentos de condenação judicial em litigio com a Deputada Federal MARIA DO ROSARIO e gastos com mudanças e transporte do acervo que deveria arcar, além de multas de trânsito por não usar o capacete nas motociatas; QUE diante disso, o ex-Presidente solicitou ao COLABORADOR (Cid) quais presentes de alto valor que havia recebido em razão do cargo; (...) QUE recebeu determinação do presidente para levantar o valor do relógio ROLEX para venda; QUE o ex-presidente autorizou o COLABORADOR a vender o relógio ROLEX e os demais itens do kit", diz trecho da delação.
Em julho de 2024, Bolsonaro e outras 11 pessoas foram indiciadas no caso das joias pela Polícia Federal (PF) por associação criminosa, lavagem de dinheiro e apropriação de bens públicos. A Procuradoria-Geral da República (PGR) ainda não apresentou denúncia.