
A pesquisa Quaest divulgada nesta segunda-feira (27) é a materialização de uma combinação de fatores que há dias vinham tirando o sono de quem gravita em torno do presidente Lula. A disparada do dólar, o aumento do preço dos alimentos, os erros na comunicação e a capacidade da oposição de usar as redes sociais para descontruir o governo explicam a queda de popularidade. A confusão em torno do Pix foi a gota d’água que fez o copo derramar: 66% dos entrevistados na pesquisa não gostaram do que viram/leram/ouviram.
Faz tempo que o governo reconhece em reuniões internas que tem problemas de comunicação. Que as boas notícias são ofuscadas pelas más — reais ou imaginárias. A solução encontrada foi trocar o ministro Paulo Pimenta, jornalista de formação, mas essencialmente um político combativo, por Sidônio Palmeira, marqueteiro de campanha.
O maior pesadelo de um candidato à reeleição, que está na metade do governo, é ter avaliação negativa superior à positiva. Todos começam com o bônus das urnas, mas, como a eleição foi muito apertada, desde as primeiras avaliações é perceptível o peso da oposição. Ao longo dos últimos dois anos, o governo lançou programas importantes, sobretudo na área da educação, mas os resultados demoram a aparecer. Educação não está na lista de prioridades dos brasileiros letrados e iletrados, o que explica em boa parte os péssimos resultados dos testes de avaliação na maioria dos Estados.
O que impacta é o que está na ordem do dia, comparado com as promessas fáceis de campanha. Lula usou a picanha como exemplo de conquista que a população teria em caso de vitória, mas não tem controle sobre o preço da carne, nem sobre as variáveis que se somam à lei da oferta de da procura.
O governo também agiu rápido na enchente que afetou o Rio Grande do Sul, mas quem não recebeu o que esperava grita, enquanto os atendidos pelas políticas públicas silenciam. Assim é a vida dos governantes e, por isso, usam a comunicação para mostrar o que está sendo feito.
O problema é que o presidente e os ministros se atrapalham na hora de se comunicar com o país. Não se está falando aqui de uso das redes sociais, mas de conteúdo. A crise do dólar começou pelo erro na forma de comunicar os cortes para cumprir as metas do arcabouço fiscal. O governo resolveu pendurar a isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil, projeto para ser votado neste e ano e valer em 2026. O mercado não perdoou e a consequência foi a subida do dólar, com impacto em outros preços.
No caso do Pix, faltou quem identificasse o potencial explosivo da medida anunciada pela Receita Federal. Não era taxar o Pix, vaca sagrada para 10 em cada 10 brasileiros, mas foi essa a narrativa que colou, sobretudo depois do vídeo do deputado Nikolas Ferreira.
Lula tem dito que ainda não sabe se será candidato à reeleição e esse é outro dilema para ele e para o PT. Se anunciar agora que não concorre, precisa indicar um sucessor imediatamente, sob pena de não ter tempo de construir uma alternativa viável. Falta um ano e oito meses para a eleição, mas as candidaturas estão em construção e a avaliação do governo animou os opositores, hoje divididos entre um candidato inelegível e governadores que desejam ser a opção entre o bolsonarismo e o petismo.