O jornalista Henrique Ternus colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço.
Um relatório de 21 páginas produzido pela bancada do PT sintetiza a avaliação dos deputados petistas sobre o ano de 2024. A maior parte do material reúne críticas à gestão estadual de Eduardo Leite, ao mesmo tempo em que exalta as ações de atendimento do governo federal ao Rio Grande do Sul após a enchente de maio.
Na sala de reuniões da bancada, os deputados Miguel Rossetto, Sofia Cavedon e o recém-chegado Halley Souza apresentaram o material. O trecho do documento que se refere ao governo federal é intitulado "o presidente Lula veio ao Rio Grande e o dinheiro chegou". Segundo os parlamentares, os recursos anunciados pelo governo federal "ultrapassam R$ 112 bilhões", em recursos extraordinários, antecipados e disponibilizados para obras de proteção contra cheias, a exemplo dos R$ 6,5 bilhões recentemente liberados.
Após um panorama de todas as ações da União para apoio do RS, os deputados questionam: "O que seria do Rio Grande sem o governo Lula?". O mote antecipa as críticas que a bancada faz ao governo Leite, cuja conduta é criticada por ter feito "a escolha do conflito".
— O que existe é uma desonestidade política do governador Eduardo Leite, frente ao presidente da República, Lula, e à sociedade gaúcha, que desconsidera o esforço da sociedade gaúcha e de prefeitos e prefeitas. Isso não é bom para o nosso Estado, essa escolha, e que, na minha opinião, é feita, infelizmente, por essa ambição fantasiosa pela Presidência, anunciada por ele. No momento em que nós mais precisamos de um governador, o que nós recebemos é uma tentativa de uma candidatura presidencial. Não é exagero dizer que Lula governou o Rio Grande do Sul — criticou Rossetto, que foi complementado por Halley:
— É um discurso muito mais para politizar, muito mais para, infelizmente, potencializar uma falsa disputa política do que os números. Ele está usando, infelizmente, um projeto que é uma visão de reconstrução de um Estado, de um povo que sofreu muito, para trampolim político.
Para exemplificar as críticas, os petistas citam o balanço do ano feito pelo governador no dia 16 de dezembro. O argumento é de que Leite não disse "nenhuma palavra e (não fez) nenhum gesto de reconhecimento à presença do governo Lula no Estado, aos esforços e medidas". Além disso, o relatório diz que a avaliação anual do Piratini "desconsidera o apoio" recebido do governo federal.
Na ocasião, o governador alfinetou o governo federal, criticando a lentidão para a efetivação de medidas, em especial na área da habitação, mas reconheceu a ajuda federal, com a ressalva de chegou menos do que foi prometido.
— Não dá pra dizer que não fizeram nada, mas não é nem de longe o que tentam vender. Muitas promessas feitas no momento crítico não se concretizaram — provocou Leite.
Não foi apenas sobre as ações de reconstrução do Estado que recaíram as críticas ao governo estadual. Para a bancada do PT, Leite acumula falhas e erros na gestão da educação, da saúde e da agricultura. Além disso, segundo os deputados, o equilíbrio fiscal amplamente divulgado pelo Piratini é uma "ficção", já que os petistas entendem que o governo não cumpre os mínimos constitucionais para investimentos na educação e na saúde — coisa que o governo do Estado refuta.
Pautas para 2025
Para 2025, a bancada anuncia o sistema de monitoramento de ações de governo, chamado de MAG, com a promessa de uma fiscalização com lupa no uso dos recursos do Funrigs e os valores liberados para obras no sistema de contenção de enchentes. Somados, os recursos ultrapassam os R$ 20 bilhões. Além disso, Rossetto diz que o planejamento para o ano legislativo do PT será concluído em fevereiro, mas já adiantou temas que serão pauta dos deputados para o próximo ano:
— Nós vamos fiscalizar a execução das obras, vamos discutir o não cumprimento da Constituição, vamos pautar o tema da agenda ambiental aqui no Rio Grande do Sul.
A bancada ainda terá lideranças importantes na Casa: além da presidência sob a responsabilidade de Pepe Vargas, o PT também comandará as comissões da Agricultura, dos Direitos Humanos e de Serviços Públicos e Segurança. Pepe já anunciou que irá focar sua atuação no desenvolvimento sustentável do Estado, uma pauta que também é cara à deputada Sofia:
— O Estado não prepara, não investe nos seus servidores, nas suas equipes, para que essa execução seja uma execução eficaz para os nossos grandes dilemas. E isso vai demandar de nós grande fiscalização, um trabalho muito intenso para ver o grande, de fato, ver isso aqui, esses valores extraordinários, bem executados, resultando em um novo patamar de preparação. Não só para as cheias, mas também para as secas. Nós não podemos fazer mais do mesmo.