O jornalista Paulo Egídio colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
Pedra cantada desde que o processo disciplinar foi enviado ao plenário da Assembleia, a cassação do deputado estadual Ruy Irigaray (União Brasil, fusão de DEM e PSL) foi consumada nesta terça-feira (22), por 45 votos a três. O deputado até tentou barrar a votação na Justiça, mas decisões de primeira e segunda instância consideraram que a cassação por quebra de decoro é questão interna do Legislativo, sobre a qual o Judiciário não deve interferir. Diante da decisão dos colegas, Irigaray fica inelegível por oito anos, o que prejudica a retomada de sua carreira política no futuro.
Além do peso da acusação de utilizar assessores pagos com dinheiro público para fins pessoais, como a reforma de um imóvel da sogra, que veio à tona em reportagens do jornalista da RBS TV Giovani Grizotti, contribuíram para o resultado a falta de traquejo político do deputado e o fato de o caso ser julgado em ano eleitoral.
De um lado, Irigaray não conseguiu movimentar-se politicamente junto aos colegas para barrar a cassação e substituí-la por pena mais branda, como a suspensão temporária do mandato, por exemplo. De outro, quando o caso chegou ao plenário, os parlamentares não quiseram ficar com a fama de corporativista para proteger o colega. A maioria dos deputados deve concorrer à reeleição ou a algum outro cargo em outubro.
Segundo deputado estadual mais votado do Rio Grande do Sul em 2018, Ruy Irigaray chegou à Assembleia respaldado por 102.117 eleitores que acreditaram nas propostas de combater a corrupção, reforçar a segurança pública e flexibilizar as regras para o uso de armas de fogo.
Identificado com o presidente Jair Bolsonaro, sobretudo pela ligação com Eduardo, filho 03 do presidente, Irigaray se popularizou em grupos bolsonaristas, o que gerou insatisfação em outros políticos que disputam eleitorado semelhante, como o deputado federal Bibo Nunes.
Após três meses de mandato, atingiu o auge da carreira política ao ser nomeado secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo no governo Eduardo Leite. Dedicado a aprovar as reformas, Leite precisava atrair os deputados do então PSL para sua base, e Irigaray foi o escolhido para o primeiro escalão por ser considerado o mais estável na comparação com os colegas de bancada.
Ainda em 2019, chegou a ser anunciado como pré-candidato a prefeito de Porto Alegre pelo PSL, mas jamais decolou.
Ele permaneceu 11 meses no governo Leite e, sem realizações notáveis, reassumiu o mandato na Assembleia no início de 2020. No Legislativo, apresentou alguns projetos de lei relacionados sobretudo à segurança pública, mas teve aprovado apenas um: o que inclui no calendário de eventos do Estado o dia do Atirador Desportivo.
Irigaray seguia o mandato sem grandes polêmicas até o início de 2021, quando duas ex-assessoras o acusaram de utilizar funcionários comissionados para a reforma na casa da sogra. O deputado sempre sustentou que não cometeu qualquer irregularidade, pagou em separado as tarefas no imóvel e que o plano sempre foi transformar o espaço em uma extensão do gabinete.
Nesta terça-feira (22), seus apoiadores lotaram as galerias da Assembleia para pressionar os deputados, mas a mobilização não foi suficiente para alterar a convicção dos parlamentares. Apenas Vilmar Lourenço (PP) e Rodrigo Maroni (PSC), além do próprio Irigaray, votaram contra a cassação.
Aliás
É a primeira vez desde a ditadura militar que dois deputados estaduais são cassados no mesmo mês. Além de Ruy Irigaray, Luís Augusto Lara (PTB) perdeu o mandato no dia 9 de março, por decisão da Justiça Eleitoral.
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