Durou uma hora e meia (e não teve fotos nem jornalistas por perto) a conversa entre o governador Eduardo Leite, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, e o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, na tarde desta segunda-feira (14), em São Paulo. Três políticos dessa estatura não gastam 90 minutos para falar de flores ou de literatura às vésperas de uma decisão crucial como a escolha dos candidatos a presidente. Kassab renovou o convite a Leite para se filiar ao PSD e ser candidato ao Planalto. E o governador, que não gostaria de sair do PSDB, balançou.
É provável que a decisão só seja anunciada na segunda quinzena de março, mas o cenário começa a clarear a partir da unidade do PSD em torno de Leite. Todos os principais líderes estão fechados com Kassab no esforço de atrair o governador gaúcho e fazer dele o candidato dos eleitores que não querem um segundo turno entre o ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro.
— Se dependesse da minha vontade, eu já estaria estendendo o tapete azul para recebê-lo — diz o deputado Danrlei de Deus, hoje secretário de Esporte e Lazer, esclarecendo que o azul poderia ser o do Grêmio, mas é o da bandeira do PSD.
Leite é sucinto no relato da reunião:
— Fizemos avaliação de cenários. Kassab renovou as manifestações de que sou um excelente quadro e me relatou ter recebido inúmeras mensagens de apoio a este movimento desde que se tornou público.
Do ponto de vista legal, para concorrer a presidente, o governador teria de se filiar ao PSD e renunciar ao mandato até 2 de abril. Tucanos que apoiaram Leite na prévia ainda têm esperança de que João Doria renuncie, já que sua candidatura encolheu nos últimos três meses, mas o governador de São Paulo não dá sinais de recuo.
Ciente de que corre o risco de perder Eduardo Leite, no sábado, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, anunciou apoio à reeleição e disse que ele seria o candidato preferencial dos tucanos ao Planalto em 2026. Leite ouviu, não descartou concorrer à reeleição, mas aos mais íntimos tem dito que não se sente estimulado a disputar o segundo mandato, até por que passou quatro anos dizendo que não o faria. Seu desejo é apoiar um nome capaz de dar continuidade ao projeto no Rio Grande do Sul.
— Sinto-me mais estimulado a cumprir uma missão no cenário nacional. Precisamos mostrar que há alternativa — disse Leite à coluna.
Não é surpresa para ninguém que a Presidência nunca saiu do seu radar, mas a derrota para Doria na prévia do PSDB indicava que o seu ano seria 2026. O dilema era o que fazer nos próximos quatro anos para não ser esquecido, já que concorrer ao Senado ou à Câmara não estava nos planos.
Foi em meio a essa incerteza e às dificuldades dos candidatos da terceira via que apareceu Kassab com a tentadora oferta de uma candidatura que, mesmo não sendo vitoriosa, pode dar projeção nacional ao jovem de 36 anos que é uma das principais revelações de sua geração.