Extremamente delicadas. Assim define uma fonte próxima à base do governo Luiz Inácio Lula da Silva ao se referir às relações com as Forças Armadas. Por isso, a reunião do presidente com os três comandantes, antes do embarque para a Argentina, será tão importante para distensionar o ambiente no qual Jair Bolsonaro nada de braçadas.
Além de todo histórico de desconfiança do governo com a caserna, o antipetismo entre os militares, a dificuldade que a equipe de transição teve para encontrar pontos de contato entre o oficialato, duas questões bem pragmáticas das últimas semanas incomodaram os comandantes.
A primeira: mais do que as suspeitas de Lula, externadas no café da manhã com a imprensa, na quinta-feira passada (12), sobre o envolvimento de militares, que teriam facilitado a entrada dos vândalos no Planalto, no dia 8, expressa na frase "as portas do palácio foram abertas por dentro", o que desagrada foi outra expressão, também do presidente, na mesma manhã. Lula disse que as Forças Armadas "não são poder moderador que pensam que são".
- As Forças Armadas têm um papel na Constituição, que é a defesa do povo brasileiro e da nossa soberania contra possíveis inimigos externos.
A frase pegou mal na caserna, que ainda se compreende, conforme a cartilha da Escola Superior de Guerra (ESG), como tutora da democracia.
O segundo ponto não engolido, em especial pelo alto comando do Exército, foi o fato de o ministro da Defesa José Múcio Monteiro ter conversado com Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e criticado, nos bastidores pelos militares por seus supostos excessos, sobre a indicação do general Júlio César de Arruda no comando do Exército. O entendimento é que o ministro pediu a bênção de Moraes.
Arruda também foi o responsável por um dos episódios de maior tensão institucional no trágico 8 de janeiro: o posicionamento de tropas do Exército e dois blindados frente a frente com o efetivo da Polícia Militar, na N1, evitando seu ingresso no acampamento de bolsonaristas em frente ao quartel-general da força terrestre, em Brasília.
- Você não vai prender pessoas aqui - teria dito o general ao ministro da Justiça, Flávio Dino.
Foi o momento em que a democracia brasileira esteve mais perto de uma ruptura.
Lula já começou a afastar militares do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de sua segurança. Desde antes da posse, quem faz a proteção do então presidente eleito e agora são agentes da Polícia Federal (PF). São estudados modelos de segurança institucional feitos em outros países em busca de um formato - o que tem prevalecido é um modelo híbrido entre a PF (segurança pessoal do presidente) e o GSI (proteção do Planalto). A exoneração de 56 praças e oficiais que cuidavam do Alvorada e da residência do Torto, publicadas no Diário Oficial da União de terça-feira (17), devem ser apenas o começo de uma ação maior, a ser implementada na semana que vem.
A pauta da modernização das Forças Armadas, anunciada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, para o encontro que ocorrerá até sexta-feira (20), é verniz para uma conversa dura entre Lula e os comandantes.