O frio violento dos últimos dias, somado à morte de um morador de rua na madrugada desta quinta-feira (1º), intensificou uma onda de protestos contra a prefeitura nas redes sociais.
O estopim foi um tuíte do presidente do Inter, Alessandro Barcellos, informando que o governo de Porto Alegre havia recusado a oferta de usar o Gigantinho para abrigar a população de rua em noites geladas. Ativistas, vereadores e líderes comunitários engrossaram as críticas contra a gestão municipal.
Vale esclarecer, em primeiro lugar, que o homem encontrado morto em uma calçada na Rua Barbedo, no bairro Menino Deus, não perdeu a vida por causa do frio. O Instituto-Geral de Perícias informou à coluna, na tarde de quinta-feira (1º), que uma lesão grave foi encontrada no pescoço da vítima. Ou seja: o mais provável é que ele tenha sido assassinado com uma faca.
– Mas é uma questão de tempo para uma tragédia envolvendo frio ocorrer aqui. Olha quantos já morreram em São Paulo – diz o líder do grupo Cozinheiros do Bem, Julio Ritta, mencionando o levantamento do Movimento Estadual dos Moradores em Situação de Rua, que aponta sete mortos na capital paulista nesta semana, quando os termômetros marcaram 6ºC.
O secretário municipal de Desenvolvimento Social, Léo Voigt, diz que a prefeitura tem estrutura suficiente para acolher a população desabrigada: conforme ele, 456 vagas estão disponíveis em albergues, abrigos e outros espaços oferecidos por entidades conveniadas. Por isso, na avaliação do secretário, não há necessidade de usar o Gigantinho.
– Estaríamos promovendo algum nível de aglomeração que, neste momento, com a pandemia, não é recomendado. E na última experiência que tivemos com o Gigantinho, em 2019, o número de pessoas que passaram a noite no local foi muito pequeno – afirma Léo Voigt.
Marcelo Medeiros, que era presidente do Inter na época, confirma a informação. Centenas de sem-teto, segundo ele, foram ao ginásio comer ou receber doações, mas boa parte retornou à rua na hora de dormir: eles alegavam receio de abandonar o ponto onde passavam a noite, embaixo de marquises ou viadutos, e perder o lugar para outro morador de rua.
De qualquer forma, é inegável que, se existem tantas vagas sobrando, mas a quantidade de gente dormindo na rua continua enorme, algo está funcionando mal. Líder da bancada do PSOL na Câmara de Vereadores, Roberto Robaina diz que os abrigos oferecidos pela prefeitura "são muito ruins".
– Não se pode exigir que uma população desregrada obedeça regras muito rígidas. Os abrigos têm limite de horário para entrar, para sair, não aceitam animais que acompanham essas pessoas. É inaceitável que o governo diga que está tudo bem, que tem vaga para todo mundo, que não precisa de ajuda, enquanto a gente anda na rua e encontra o caos – analisa o vereador.