A infraestrutura de transportes do Estado foi duramente atingida pela enchente de quase um ano atrás. Em diferentes ritmos, de forma mais célere ou demorada, os modais aéreo, rodoviário e hidroviário se recuperam. É bem diferente do que ocorre com as ferrovias. O cenário, que já era de desleixo, com o aumento paulatino de trechos em desuso, é de paralisia. A ligação por trilhos com o restante do país foi interrompida pela tragédia climática, e desde então a situação prossegue a mesma, sem providência da concessionária Rumo. Não é aceitável que o quadro de isolamento persista até o fim da concessão da malha à empresa, em 2027.
Não é aceitável que o quadro de isolamento do Estado persista até o fim da concessão da malha, em 2027
Um estudo encomendado pela estatal gaúcha Portos RS e divulgado neste mês mostra a queda gritante do volume transportado, os prejuízos à economia e a extensão cada vez maior de quilômetros negligenciados. Conforme o levantamento, a movimentação de carga caiu pela metade entre 2006 e 2023. No início da concessão, em 1997, a operadora (à época ALL) recebeu 3,8 mil quilômetros de ferrovias. No início do ano passado, somente 1,68 mil quilômetros estavam em operação. Após a tragédia climática, apenas 921 quilômetros, basicamente de Cruz Alta até o Porto de Rio Grande.
Até o volume de soja levado ao porto foi reduzido, na contramão do crescimento da produção agrícola. Caíram também as cargas de fertilizantes, que aproveitavam a viagem de volta dos trens para o Interior. Contêineres e produtos siderúrgicos não são mais movimentados. O transporte de combustíveis parou após as enchentes. O uso de rodovias encarece os produtos e, ao final, o consumidor paga mais nas bombas. Se existisse um investimento adequado na ferrovia, o custo do frete de grãos até Rio Grande, que recai sobre os produtores, poderia ser 22% inferior ao atual, sobre caminhões. Mais caminhões nas estradas tornam as vias mais perigosas. Há ainda o revés sofrido pelo setor de turismo, que ganhava força no Vale do Taquari com os passeios de trem.
As queixas em relação à concessionária são antigas, mas nada força a empresa a cumprir as suas obrigações. Na reunião em que o estudo foi apresentado, o representante da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) revelou que o órgão regulador já emitiu mais de 600 autos de infração devido à situação da malha sul – que, além do Estado, também engloba Santa Catarina, Paraná e partes de São Paulo e Mato Grosso do Sul.
O Rio Grande do Sul tem, como um dos principais desafios, que elevar a competitividade da economia. A logística é fator crucial devido à distância dos principais centros consumidores do país. E as ferrovias, neste contexto, são essenciais para diminuir custos de transportes em distâncias maiores. Mas o cenário é de total desalento, apesar das reclamações de entidades empresariais e do governo gaúcho, que capitaneia uma tentativa de reverter esse quadro. Há previsão legal para que a concessionária devolva trechos ociosos e indenize a União por isso. Deve-se acelerar a pressão por esse caminho e outros que garantam investimentos e eficiência operacional para as ferrovias no Estado, sem precisar esperar o fim da concessão. _