Não é novidade e sequer se restringe ao Rio Grande do Sul o quadro de extrema dificuldade para contratar mão de obra. As taxas de desemprego, no Brasil e no Estado, estão em mínimas históricas. Companhias de todo o país se queixam das vagas abertas que não conseguem preencher pela escassez de trabalhadores.
Empresas não estão conseguindo recrutar trabalhadores pelo fato incontornável de que não há capital humano disponível
Diante de uma conjuntura bastante conhecida, deve-se esperar bom senso para solucionar o caso das empresas gaúchas atingidas pelas enchentes de maio do ano passado que estão ameaçadas de perder as condições especiais de empréstimos por não conseguirem manter ou aumentar o número de funcionários que tinham antes da tragédia climática. A colunista Giane Guerra vem noticiando que companhias que conseguiram acessar a linha do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) com juros subsidiados estão sendo notificadas pelas instituições financeiras repassadoras de que podem perder os benefícios caso não cumpram a regra de recomposição da quantidade de trabalhadores agora, em maio. De acordo com o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, um terço dos negócios que tomaram os empréstimos está com essa dificuldade.
Podem existir exceções, mas essas empresas, notadamente indústrias, em regra não estão conseguindo recrutar trabalhadores pelo fato incontornável de que não há capital humano disponível. Trata-se de uma situação alheia à vontade dos empregadores.
Logo nos primeiros meses depois da enchente, empresas direta e indiretamente atingidas pela tragédia, sem conseguir produzir, abrir as portas ou com problemas logísticos, viram-se forçadas a demitir. Entre maio e julho, o Estado perdeu quase 40 mil postos com carteira assinada. Mas a recuperação veio em seguida, e o Rio Grande do Sul encerrou o ano com um saldo positivo de 63 mil vagas formais. Os dispensados foram rapidamente absorvidos. Sabe-se também que, nos municípios mais afetados, registrou-se movimento migratório para outras cidades, o que amplia as dificuldades das empresas locais de conseguirem mão de obra.
Compreende-se que as instituições repassadoras, comprometidas em zelar pelas regras dos empréstimos, até para não sofrerem sanções dos órgãos de controle, cumpram o seu papel e façam essas notificações. Mas será mandatório encontrar uma saída para formalizar uma flexibilização dessa obrigação aprovada em lei pelo parlamento. Contrapartidas de manutenção ou expansão de empregos para benefícios são justificáveis e até comuns. Mas, no caso específico, há uma barreira intransponível. Segundo Mercadante, o máximo que o BNDES poderia fazer, via Conselho Monetário Nacional (CMN), seria dilatar o prazo para o cumprimento da norma. De qualquer forma, seria somente um paliativo. Uma solução definitiva, diz o dirigente, teria de vir via Congresso. Passe a fórmula a ser encontrada pelo Legislativo ou pelo Executivo, resta claro que só virá por mobilização política. É tarefa das entidades representativas e da bancada gaúcha. O que não é razoável é as empresas impactadas pela cheia sofrerem outro duro golpe em meio ao processo de recuperação de seus negócios.