Tão logo a tragédia de maio de 2024 se materializou, ficou patente que o Estado precisaria de novas e grande obras de contenção de cheias. O primeiro desses projetos estruturantes, iniciado do zero, é o do dique de Eldorado do Sul. Na quinta-feira, ao apresentar o balanço do Plano Rio Grande, o governo gaúcho anunciou que estava prestes a lançar o edital para a atualização do anteprojeto. Trata-se de uma etapa preliminar, mas essencial.
Deve-se, a partir de agora, acompanhar "pari passu" o andamento de cada fase e dos prazos anunciados
Deve-se, a partir de agora, acompanhar pari passu o andamento de cada fase e dos prazos anunciados. Observar de forma atenta o cumprimento do cronograma e cobrar eventuais atrasos é essencial para elevar a garantia de que a construção não vai se arrastar por um tempo demasiado, além da demora usual de obras públicas no país. Por se localizar em uma área extremamente plana às margens do Rio Jacuí, Eldorado do Sul sofre periodicamente com inundações. No ano passado, foi o município mais afetado pela enchente. Cerca de 80% dos domicílios foram atingidos, 32 mil pessoas sofreram diretamente as consequências da cheia. O sistema de proteção é uma demanda antiga da comunidade local. Com os riscos de novos episódios de chuva extrema se repetirem com maior frequência no futuro, é obra urgente para proteger os cidadãos e a economia local, uma vez que o município tem recebido investimentos corporativos vultosos.
A previsão é de que a contratação da empresa responsável pelo anteprojeto ocorra até 20 de maio. A vencedora da concorrência terá o prazo de seis meses para finalizar o trabalho. Sem sobressaltos, portanto, seria concluído em novembro. A etapa seguinte teria novo certame para definir a empresa que fará o projeto executivo e executará a obra. No início de 2025, estimava-se que a construção poderia se iniciar em 2026 e levar 36 meses. O custo, antes estimado em R$ 530 milhões, pode chegar na verdade a um montante mais próximo de R$ 1 bilhão. A obra será custeada pelo fundo extraordinário de R$ 6,5 bilhões criado pelo governo federal.
Além de reconstruir o que foi destruído, o Estado está em uma corrida para que a infraestrutura e as cidades resistam a cheias semelhantes à de maio _ que virão, só não se sabe quando. Isso faz com que se precise conciliar a elaboração de projetos consistentes que se transformem em obras robustas, o que leva mais tempo, com a celeridade necessária para minimizar riscos de novas tragédias e perdas financeiras e de vidas.
Às vésperas de o maior desastre climático da história gaúcha completar um ano, renova-se a lembrança da importância de a sociedade cobrar as promessas feitas. O Painel da Reconstrução, ferramenta do Grupo RBS que permite acompanhar o andamento de projetos e repasses, disponibiliza essas informações. Ali está, por exemplo, a situação atual dos projetos das demais obras de contenção de cheias, como a do Arroio Feijó, no limite entre Porto Alegre e Alvorada, e as das bacias dos rios dos Sinos e Gravataí. Aguarda-se que, em breve, também andem. Todas fazem parte do Plano Rio Grande, um planejamento consistente que, votado pela Assembleia, se tornou um programa de Estado, previsto para atravessar governos. Mas, por melhores atributos que tenha, não se concretizará sozinho. A execução plena dependerá da vigilância dos gaúchos.