Os 12 anos de pontificado do papa Francisco, encerrados com a sua morte, nesta segunda-feira, entram para a História pelo legado transformador na Igreja Católica. Mas a renovação que promoveu, em mensagens e atos, nada teve de transgressora em relação aos principais ensinamentos de Jesus, como a compaixão e o amor ao próximo. Pelo contrário. O argentino Jorge Mario Bergoglio, que deixou a vida aos 88 anos, teve a generosidade, a simplicidade e a defesa das populações vulneráveis como princípios norteadores de seu papado.
A inspiração que deixa transcende credos por ter a bondade e a humanidade como bases
O primeiro papa latino-americano e jesuíta será lembrado pela dedicação aos desvalidos, imigrantes e refugiados. A escolha por adotar o nome Francisco, inspirado no santo que renunciou ao conforto material para viver em meio aos pobres, foi coerente com a trajetória do homem de hábitos simples desde os tempos de sacerdócio em sua terra natal e prenunciou como atuaria à frente da Igreja.
O papa Francisco deixa a marca da busca por conectar a instituição milenar e de avanços lentos aos temas mais candentes da atualidade. As mudanças climáticas e suas consequências foram uma preocupação constante. Em 2015, publicou uma encíclica sobre meio ambiente, com propostas para mudanças de atitude que pudessem garantir o futuro da humanidade e do planeta, a casa comum. No ano passado, após a enchente de maio, manifestou solidariedade com o Rio Grande do Sul e disse orar pelos gaúchos.
Outro tema sempre presente nos pronunciamentos de Francisco era a pregação da paz. Em um período de recrudescimento de conflitos em várias regiões do mundo, era uma voz constante nos apelos por esforços pelo fim das guerras e na condenação do uso da força e das armas. À crescente intolerância entre seguidores de diferentes crenças respondia com a promoção do diálogo inter-religioso.
Bergoglio ficará na memória ainda pelos desafios que encontrou e enfrentou na própria Igreja Católica. Os casos de pedofilia cometidos por padres deixaram de ser um tabu mantido sob um véu de silêncio. O papa determinou tolerância zero com casos do gênero e eliminou o segredo pontifício - usado em episódios considerados graves - em situações de violência e abuso sexual perpetrados por representantes da Igreja. Com a mesma determinação, encarou os escândalos financeiros que envolveram o banco do Vaticano. Vencendo resistências em um ritmo possível em uma instituição naturalmente apegada a liturgias e tradições, caminhou para frente ao preconizar o acolhimento à comunidade LGBTQIA+. Reconheceu o papel feminino e passou a dar protagonismo às mulheres em posições hierárquicas mais altas no Vaticano. Com sensibilidade, conseguiu unir fé, religiosidade e espiritualidade aos dilemas contemporâneos, guiando os passos dos cerca de 1,4 bilhão de seguidores do catolicismo.
Como homem do povo, o papa apreciava futebol. Com bom-humor característico, era um talentoso piadista. São características que o tornavam ainda mais popular a carismático e o aproximavam da realidade das ruas, onde estava o seu rebanho, as pessoas mais simples, a quem servia. A inspiração que Francisco deixa transcende os muros dos credos por ter a bondade e a humanidade como bases.