Programado para entrar em vigor neste domingo, o acordo de cessar-fogo entre Israel e o grupo terrorista Hamas, anunciado na última quarta-feira depois de exaustivas negociações mediadas por Catar, Egito e Estados Unidos, tem o mérito de suspender temporariamente os combates que já provocaram milhares de mortes e muita destruição, a partir do ataque sangrento dos membros do Hamas ao território israelense em 7 de outubro de 2023. É importante contextualizar que antes daquele bárbaro crime, caracterizado pela execução sumária e pelo sequestro de centenas de civis inocentes, incluindo mulheres e crianças, perdurava uma espécie de trégua na região — ainda que o litígio histórico permanecesse latente.
Agora, depois de 15 meses de muito sofrimento de ambos os lados, principalmente pelas perdas irreparáveis de vidas humanas, volta-se ao ponto de partida — um armistício frágil, mas que devolve a esperança de uma convivência pacífica entre os dois povos. Se perdurar, esse “acordo possível” pode ser uma nova oportunidade para a construção de uma paz duradoura no Oriente Médio, com diálogo permanente, respeito mútuo e rejeição inequívoca ao extremismo.
Há um consenso internacional de que Gaza deve ser administrada por palestinos, mas essa administração não pode ser controlada pelos criminosos do Hamas, que se movem pelo ódio e pelo fanatismo
O pacto firmado no Catar e apenas nesta sexta-feira ratificado pelo Conselho de Ministros do governo israelense é, na verdade, uma negociação continuada , pois depende do cumprimento de etapas que representam um verdadeiro terreno movediço a ser atravessado. A primeira fase, com duração de seis semanas, prevê a liberação de 33 reféns israelenses, a soltura de prisioneiros palestinos, a retirada parcial das tropas que ocupam as zonas mais populosas de Gaza e a ampliação da ajuda humanitária para a população civil. A segunda parte do acordo deve incluir a liberação dos demais reféns detidos pelo grupo terrorista e a entrega dos corpos daqueles que já morreram. O terceiro e ainda distante objetivo do entendimento inclui a reconstrução de Gaza e a definição de um governo reconhecido e responsável para administrar aquele território palestino.
Aí está o X da questão: a população da Faixa de Gaza não pode continuar sob o domínio de terroristas que defendem a eliminação de Israel — e que, infelizmente, contam com o apoio de ditaduras islâmicas da região. Se o radicalismo sobreviver e se fortalecer, dificilmente a paz duradoura será alcançada. Há um consenso internacional de que Gaza deve ser administrada por palestinos, mas essa administração não pode ser controlada pelos criminosos do Hamas, que se movem pelo ódio e pelo fanatismo mesmo sabendo que seus atos reverterão em sofrimento para seu próprio povo.
Israel, como qualquer país soberano, tem o direito de se defender de agressores que pregam a sua eliminação. Mas certamente o propósito prioritário dos israelenses — como ocorre com a maioria dos palestinos — é viver em paz e conviver harmonicamente com seus vizinhos. A guerra nunca é solução para nada, só traz desgraças e privações. As grandes conquistas civilizatórias se consolidam nos períodos de paz, quando homens e mulheres podem se dedicar ao trabalho, ao lazer, à vida em sociedade, à criatividade e ao desenvolvimento econômico, cultural e social. Essa trégua frágil ainda não pode ser chamada de pacificação, mas reacende a luz da esperança.