
Costumo ler com atenção os cartazes ostentados em manifestações coletivas e em protestos individuais, pois textos curtos são verdadeiros desafios à objetividade dos mensageiros e à inteligência dos receptores das mensagens. Além disso, portadores de cartazes costumam ser pacíficos, até mesmo porque precisam utilizar as mãos para segurar as tabuletas de modo que possam ser lidas ou registradas pela mídia. O que tem que ser contundente é o recado, seja pela agudeza, pela curiosidade ou pelo humor. Tenho especial predileção por este último recurso.
Coisas engraçadas sempre funcionam melhor. Recentemente em Paris, em protesto contra a poluição ambiental, uma jovem vestida de sereia adaptou uma mensagem dos anos 1960, do tempo da guerra do Vietnã, e passou o seu recado com graça: “Faça amor, não CO2”. O gás carbônico, como todos sabemos, é um dos principais causadores do efeito estufa.
Quando o Brasil começou a gastar recursos públicos para construir e reformar estádios de futebol para a Copa do Mundo de 2014, também se registraram manifestações contrárias em várias cidades do país. Ainda me lembro de um cartaz que conjugava ironia com realidade: “Queremos hospitais padrão Fifa”. Infelizmente, também perdemos essa de goleada.
Pois nas últimas semanas, por motivos óbvios, o principal alvo dos manifestantes em todo o mundo passou a ser o presidente norte-americano Donald Trump, principalmente devido à sua política autoritária, excludente e desumana.
O irônico, no caso, é que o próprio Trump chegou ao poder com a ajuda dessas mensagens curtas e de slogans nacionalistas que iludiram os norte-americanos. Quer coisa mais racista e xenófoba do que America First? Mas os “patriotas” adoram esse tipo de apelo – pelo menos até que a economia desande e comecem a perder seus empregos e suas rendas.
Para não ficar apenas no exemplo externo, lembro que o arrogante “Brasil acima de tudo!” também andou mexendo com as emoções por aqui e só serviu para abrir feridas que ainda sangram. Voltando aos Estados Unidos. Das manifestações anti-Trump que já pipocam em várias cidades norte-americanos, me sensibilizou este cartaz ostentado por um estudante: “Caro mundo, sentimos muito. Sinceramente. A maioria dos americanos.”
Tomara que seja mesmo a maioria.