
Temos o pôr do sol, parques floridos, lindos estádios de futebol, belos monumentos, prédios históricos, atrações culturais diversificadas, muita coisa para vivenciar e apreciar, mas estou convencido de que o maior encanto desta cidade aniversariante continua sendo a sua gente. Se pudéssemos escanear a alma de cada porto-alegrense nato ou arranchado na Capital, certamente teríamos histórias tão saborosas quanto os contos das Mil e Uma Noites que amoleceram o coração de pedra do Rei da Pérsia.
Vai aqui uma dessas histórias. Na semana passada conheci uma rainha que vive entre nós e que já está prestes a superar o recorde da britânica Elizabeth II, que reinou por 70 anos. É a rio-grandina Maria Helena Andrade, eleita Rainha do Rádio do Estado em 1957, aos 14 anos, e ainda detentora do título porque o concurso acabou naquele ano. Ela fará 83 anos em maio e continua cantando com a mesma vibração e a mesma qualidade de voz da adolescente que conquistou auditórios e ouvintes na década de 1970. A mulher é um show de simpatia.
Antes de focar nela, contextualizo: o concurso nacional Rainha do Rádio foi criado na década de 1930 pela Associação Brasileira de Rádio para arrecadar recursos destinados à construção de um hospital. Na época em que o rádio era o principal meio de comunicação do país, o público envolvia-se em disputas apaixonadas para escolher a melhor cantora, preenchendo cédulas publicadas em jornais e revistas. A competição também se desenvolvia em âmbito estadual. Foi assim que a menina Maria Helena Andrade, então representando a Rádio Farroupilha, superou as concorrentes da Gaúcha e da Itaí, conquistando a coroa que ainda detém.
Maria Helena é mais do que uma rainha do canto. Solta a voz todos os dias no apartamento no bairro Santo Antônio, onde vive com seu dedicado marido e onde, juntamente com a colega jornalista Tatiana Gomes, fui recebido para uma entrevista entre abraços e cantorias. Ela relata com brilho nos olhos cada detalhe de sua meteórica carreira, plena de sucessos e boas lembranças. É uma mulher de bem com a vida, disposta, comunicativa e feliz por saber que só transmite boas energias. Durante nossa visita, cantou até uma bela canção em russo. De amolecer corações. Gravei e estou pensando em mandá-la para o Kremlin.