
A brincadeira é irresistível. A gente pega uma foto qualquer e pede para o ChatGPT converter para o estilo Ghibli. Sai algo similar àqueles desenhos animados japoneses, com personagens de olhos grandes e jeitão alegre. A nova ferramenta de geração de imagens, lançada no final do mês passado pela empresa OpenAI, virou febre mundial — e também uma discussão planetária sobre direito autoral.
Pode isso, Arnaldo? A inteligência artificial imita direitinho o estilo dos desenhos do Studio Ghibli, responsável por alguns filmes de sucesso, entre os quais O Menino e a Garça, animação vencedora do Oscar em 2024. É pura fantasia. Mahito, órfão de mãe, mergulha num mundo fantástico de aventuras e seres estranhos, até recuperar, graças à sua coragem e determinação, a própria identidade e o amor familiar.
— Construa sua própria torre! — sugere um sábio personagem do filme.
É o que também teremos de fazer com as pedras da inteligência artificial, que a cada dia nos impõe novos desafios de ordem ética. Basta uma ordem nossa e ela nos devolve textos precisos, criativos inclusive, ensaios perfeitos em poucos segundos. Será lícito assiná-los como se os tivéssemos produzido? Basta uma instrução adequada e ela nos devolve desenhos impressionantes, no estilo do artista sugerido, verdadeiras obras de arte. Somos nós os autores?
Basta, agora, escolher uma fotografia de parentes, amigos, de pessoas que queiramos homenagear ou satirizar, e logo os algoritmos nos devolvem personagens de olhos grandes, como se saíssem do traço de um habilidoso caricaturista japonês. Fere ou não fere o direito autoral de quem primeiro imaginou tais personagens?
Eis aí o enigma da esfinge tecnológica: ou deciframos ou a inteligência artificial nos devorará. O certo é que não adianta espernear. Ela veio para ficar. Os avanços tecnológicos não vão retroceder, nem mesmo se forem submetidos às mais severas regulamentações e proibições. Não nos resta outra alternativa a não ser utilizarmos a nossa inteligência natural para encontrar o caminho da convivência pacífica com a inovação.