
Dia desses fui levar a gatinha lá de casa numa clínica veterinária e pedi para o atendente aplicar um produto antipulgas, mais por prevenção, pois o bicho não demonstra qualquer sinal de infestação. Como o homem não dispunha de remédio para tal finalidade em seu estabelecimento, fui a uma loja especializada e voltei lá com o medicamento. O rapaz olhou para o vidro e disse:
— Esse produto não serve. Ele não mata as pulgas, só as deixa tontas.
Pulgas tontas? Nunca tinha ouvido falar nisso. Até achei que era brincadeira, mas alguns dias depois uma veterinária diplomada me confirmou a existência dessa possibilidade. Fiquei curioso e fui atrás de literatura sobre o assunto. Descobri que existe mais de quatro mil espécies de pulgas no mundo e que cerca de 100 delas podem ser encontradas no Brasil. Li, também, que elas odeiam cheiro de alecrim. E fiquei sabendo ainda que aquele bichinho minúsculo, quase invisível, é capaz de dar saltos de até 40 centímetros. Só não achei nada sobre pulgas atordoadas. Aguardo ajuda dos universitários.
Mas é possível, sim, que elas sejam dessa forma afetadas pelo remédio inadequado, como parece estar acontecendo com a humanidade a cada tarifaço do presidente Donald Trump. Primeiro, porque ainda não deu para entender qual é o seu real propósito. Aparentemente, quer tirar os chineses do caminho dos norte-americanos, mas está tonteando todo o mundo. No mínimo, está errando na dosimetria. A deriva está atingindo as abelhas. São tantas as idas e vindas da economia que a gente tem vontade de pular fora do planeta, como fazem os insetos saltadores. Mas ir para onde, se as raras passagens para Marte já foram adquiridas pelo senhor Elon Musk? E, pela fervura da chaleira, talvez ele precise se mandar para lá logo, logo.
Agora temos uma pausa de três meses para nos recuperarmos dos primeiros choques. Não sei se vai durar tanto, pois amanhã o homem pode acordar descabelado e assinar mais meia dúzia de decretos devastadores. Estamos à mercê de um negacionista da globalização, do bom senso e da humanidade. O consolo é pensar que ele está usando o remédio errado.
Tontura passa.