Os dois finalistas acabaram por representar muito bem a diversidade da excelente Copa da Rússia. Poderia ter dado Bélgica x Croácia. Seria a consolidação da ideia de que camiseta pesada não tem mais a força histórica de fazer a diferença na hora grande. Vale a competência e pronto.
Poderia ter dado França x Inglaterra, concluiríamos que não tem jeito: quando chega o momento decisivo, o que vale é a cultura do futebol acostumado a competir entre os grandes, a soma dos títulos ou finais anteriores sendo o diferencial para separar homens de meninos.
Porém, a final entre franceses e croatas deixa claro que a distância entre camiseta pesada e camiseta leve encurtou, sim, e há espaço para admiração a quem já levantou taça e foi recentemente vice-campeã europeia, a França, da mesma forma que há espaço para admirar a competência da Croácia, nove pontos em nove na fase de grupos, incluindo goleada sobre a Argentina, e dona de uma força rara para superar os limites do esgotamento físico e emocional em três prorrogações consecutivas.
Genialidade e marcação
Não é só isso. Para os que priorizam as individualidades, haverá a presença de Mbappé, um extraordinário projeto de fora-de-série com capacidade de decisão. Estará em campo Modric, um monstro guardado em corpo franzino a ditar os destinos do jogo no meio-campo. Para quem não abre mão do conceito do futebol coletivo, uma qualidade comum a franceses e croatas aparece: segurança defensiva a partir da intensa participação de todos no serviço de marcação.
Nem o veterano Mandzukic, que sequer terminou os 120 minutos da prorrogação desta quarta-feira (11), fica isento de dar combate ao defensor adversário que esteja saindo com a bola. Nem o inventivo Mbappé, de quem se espera que faça gols e lindas jogadas, está dispensado de dificultar o trabalho de bola do rival que estiver ao seu alcance.
Também há outra semelhança entre os finalistas na configuração do setor vital do meio-campo. Kanté, na função de guardião de zaga, e Pogba, como articulador que também defende, fazem da intermediária sua casa. Do outro lado, Rakitic e Modric parecem tornar aquela zona do campo uma propriedade deles. Imagine que rico será o embate entre estes jogadores tão capazes de se multiplicar nas funções exigidas hoje em dia de quem joga de meio-campista.
Equilíbrio e competência
Se Mbappé se faz acompanhar de um consagrado Griezmann, que ainda tem potencial de evoluir em seu jogo, na Croácia o coadjuvante de luxo é Perisic, decisivo na classificação sobre os ingleses. Terminou o jogo com a mão no músculo posterior da coxa, nem sei se vai a campo no domingo, duvido que não vá. É o jogo da existência dos competentes e virgens croatas, dispostos a entrar na história do seu país.
É o jogo da vida dos franceses, que viverão a oportunidade ímpar da conquista de sua primeira Copa do Mundo fora de casa. Se Brasil, Alemanha, Argentina e Espanha ficaram pelo caminho pelos mais diversos motivos, França e Croácia estão na decisão pelas razões inatacáveis de sua competência.