
O apoio de deputados ao projeto de anistia dos envolvidos no 8 de Janeiro não foi construído do dia para a noite, e não pode ser lido apenas como uma demonstração de força do ex-presidente Jair Bolsonaro. O movimento é consequência de um descontentamento quase generalizado do Congresso com o Supremo Tribunal Federal (STF), em boa parte relacionado às penas impostas aos militantes que depredaram as sedes dos Três Poderes pedindo golpe de Estado.
Ainda há muitas divergências entre os deputados que assinaram o projeto, porém, sobre quem deveria receber anistia. Da forma como o texto foi apresentado, promove um perdão geral e irrestrito, na linha do que defendem os parlamentares mais ligados a Bolsonaro. Além de banalizar a tentativa de golpe, o projeto também fere a Constituição e pode abrir uma grave crise institucional.
Mas há quem tenha ratificado o texto apenas como forma de pressionar o STF, abrindo espaço para a construção de um meio-termo. Este ao menos é o argumento nos bastidores de lideranças de partidos de centro.
O governo, que subestimou a força dos aliados de Bolsonaro e não conseguiu evitar que o pedido de urgência do projeto fosse protocolado, agora percebeu que terá de entrar nas negociações.
Nos últimos dias, ganhou força no Planalto a ideia de negociar uma espécie de muro, com os militantes de base de um lado, e os financiadores e mentores intelectuais dos ataques de outro. Assim, seria possível manter o discurso de que pode haver solidariedade com aqueles que foram usados como "massa de manobra", mas não com quem planejava romper com a democracia e seguir no poder.