
As primeiras medidas anunciadas pelo governo Lula para conter a alta nos preços dos alimentos terão efeito limitado, segundo empresários que participaram das negociações. Mas a condução das conversas até agora demonstra disposição de estímulo saudável à concorrência. Além de reduzir o impacto da inflação para os consumidores, o governo tem um objetivo político: ganhar reconhecimento por uma eventual queda de preços, que deve ser sentida em vários produtos não porque a alíquota de importação foi zerada, e sim pela entrada nas próximas semanas de uma boa safra brasileira.
A iniciativa de zerar a alíquota de importação de produtos essenciais na mesa do brasileiro não é novidade. Há exatamente três anos, também diante de uma inflação bem acima da meta, o então presidente Jair Bolsonaro tomou a mesma providência. O efeito foi limitado, mas fortaleceu o discurso de que o governo estava fazendo a sua parte.
Lula não quis fazer o anúncio das medidas pessoalmente. Como forma de reduzir resistências, delegou ao vice-presidente Geraldo Alckmin. Além de ter proximidade com empresários e o setor do agronegócio, ele acumula o comando do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). É claro que, se houver queda relevante de preços nos próximos meses, Lula não se furtará de exaltar o papel exercido por seu governo.
Nos bastidores, a forma como as negociações foram conduzidas até aqui rendeu elogios até mesmo de empresários que têm resistência ao governo. A percepção é de que houve bom senso do Planalto em não adotar medidas extremas, como a limitação de exportações. A desconfiança, no entanto, está sempre no radar. Afinal, a pressão só vai diminuir se os preços se acomodarem, e isso não dependerá apenas das ações adotadas pelo Planalto.