O ano não começou bem para o governo Lula. Além de perder a guerra de narrativas sobre o pix, as consequências do desequilíbrio fiscal são cada dia mais perceptíveis pela população: inflação em alta, alimentos caros nos supermercados, juros nas alturas. O cenário ampliou uma necessidade que já era percebida pelo entorno de Lula há um bom tempo: ceder mais poder a partidos do centrão, em busca de governabilidade e apoio em 2026.
A fragilidade política de Lula já havia sido percebida nas eleições municipais. Embora o ex-presidente Jair Bolsonaro, seu principal adversário político, também tenha amargado derrotas, o petista ficou longe do sucesso almejado como cabo eleitoral. Os alertas sobre a viabilidade de renovação do mandato vêm se acentuando.
Nesta segunda-feira (27), os números da pesquisa Quaest comprovam o que muitos auxiliares já diziam a Lula: a opinião da população sobre o governo piorou. O levantamento mostrou o maior patamar numérico de avaliação negativa desde o início do mandato: 37%, seis pontos percentuais acima da última pesquisa, no intervalo de um mês e meio.
Ao se pronunciar publicamente, Lula tem atribuído os problemas do governo à comunicação. Mas ele sabe que entregar o ministério antes ocupado pelo deputado Paulo Pimenta ao marqueteiro Sidônio Palmeira não será suficiente para reverter o quadro. A crise do pix provocou um desgaste expressivo, mas pode ser algo passageiro. O que não muda do dia para a noite é a economia.
Há dois anos, quando retornava ao Palácio do Planalto, Lula se valeu de um ambiente interno favorável que geralmente sucede as eleições. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, era ouvido atentamente por investidores, que acreditavam em sua bem-intencionada condução das contas públicas. Agora, com menor margem para gastos, diante da péssima relação com o Congresso e com a popularidade em queda, muitos já não acreditam nas promessas.
Resistente à maior parte do receituário da Fazenda, Lula planeja uma iniciativa já conhecida. Vai ampliar o espaço do centrão no governo, reduzindo cadeiras do PT e reacomodando partidos que possam garantir melhor governabilidade. A reforma deve ser anunciada nos próximos dias.
O arranjo poderia ser importante para aprovar projetos pendentes no Congresso, inclusive para controle das contas públicas. Pelo histórico de Lula, no entanto, é mais provável que a nova configuração da Esplanada busque soluções de curto prazo, garantindo orçamento para políticas do governo e recuperando a popularidade perdida.