O lançamento do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) pelo presidente Lula, nesta sexta-feira (11), foi cercado de simbologia. Com o pacote de projetos e investimentos em infraestrutura, ele espera dar visibilidade à conclusão de obras — muitas delas atrasadas e iniciadas em outros governos petistas —, mas também pavimentar o seu futuro político. A cerimônia foi marcada por acenos de Lula à oposição, aos militares e aos empresários, além de um forte apelo a petistas para que respeitem adversários.
Até mesmo a escolha do local para lançar o projeto foi feita a dedo. Lula costurou junto ao prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), o ambiente para lotar o histórico Theatro Municipal, onde exaltou também a presença do governador Cláudio Castro (PL), que apoiou Jair Bolsonaro em 2022. Além de tentar vencer resistências em um Estado em que teve menos votos no último pleito, Lula queria fortalecer Paes e demonstrar sua disposição em estreitar laços com governadores de direita.
Na plateia, cinco dos 27 governadores não compareceram ou não enviaram os vices: Eduardo Leite (PSDB-RS), Jorginho Mello (PL-SC), Ratinho Junior (PSD-PR), Tarcísio Freitas (Republicanos-SP) e Romeu Zema (Novo-MG). Leite justificou à coluna que a ausência se deu por conflitos de agenda. Interlocutores dele e dos outros governadores admitiram, contudo, que a ideia era não "disputar holofotes" em um evento com forte componente político.
Na abertura de seu discurso, Lula não reclamou das ausências, mas fez questão de elogiar a disposição de antigos adversários que estavam na plateia, entre eles Ronaldo Caiado (União-GO). Incomodado com as vaias da plateia — formada na maioria por militantes petistas —, Lula os repreendeu. E aproveitou para destacar uma presença na primeira fileira que por si só já tinha importância: o presidente da Câmara, Arthur Lira.
— O Arthur Lira foi nosso adversário desde que o PT foi fundado. Nós vamos continuar sendo adversários — pontuou Lula, esclarecendo que Lira havia sido convidado por ser presidente de um Poder do qual o Executivo depende para governar.
O petista voltou a dizer que depende mais de Lira e do Congresso do que o contrário. A declaração ocorre no momento em que lideranças do centrão negociam maior espaço na Esplanada, o que também será decisivo para o sucesso do PAC. Afinal, o programa não sairá do papel apenas por empenho do Executivo.
Lula também não escondeu a vontade de gastar mais. Em tom de brincadeira, disse que os investimentos com dinheiro público poderão ser maiores no PAC se o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, "abrir um pouco a mão". E reforçou que quer fazer o país crescer para distribuir renda.
— É exatamente por isso que assumimos o compromisso moral neste Novo PAC de retomar a construção de milhares de obras. Não deixar mais que a falta de gestão ou a austeridade fiscal quase obsessiva interrompam pela metade os anseios mais justos da nossa população — discursou.
A demora no lançamento do PAC era motivo de reclamação de aliados nos últimos meses. Lula aguentou as críticas e deu confiança ao ministro da Casa Civil, Rui Costa, para conduzir o projeto. Com expectativa de gerar 4 milhões de empregos diretos e indiretos, o petista espera chegar em 2026 com uma onda positiva, não apenas com crescimento da economia, mas também da renda.
Empolgado com os resultados que a iniciativa poderá gerar, o ministro da Casa Civil disse que as projeções do PAC vão além de 2026 por acreditarem na reeleição de Lula. Falado antes apenas em conversas internas, o desejo já começa a vir à tona no entorno do presidente.