Para quem temia "apenas" uma guerra comercial mundial no segundo mandato de Donald Trump na Casa Branca, o final de semana foi impactante. Se as tarifas vieram mais suaves do que se temia, agora o presidente dos Estados Unidos parece disposto a ameaçar a aliança que evitou grandes guerras nos últimos 80 anos.
Nesta segunda-feira (17), líderes europeus fazem uma reunião de emergência em Paris com objetivo de avaliar riscos e estratégias diante das tratativas entre EUA e Rússia para encerrar a guerra contra a Ucrânia, que no dia 24 completará três anos. O principal motivo é o acúmulo de sinais de que os EUA pretendem interferir em uma situação delicada no território europeu sem ouvir os vizinhos, maiores interessados – e talvez até sem a própria Ucrânia.
A maior preocupação é de que Trump chancele o fim do conflito com perda significativa de área da Ucrânia, invadida sem qualquer justificativa. Do ponto de vista europeu, isso estimularia o presidente da Rússia, Vladimir Putin, a prosseguir na escalada de invasões, já que o resultado tem sido muito favorável.
A "emergência" surgiu porque está marcada para o dia seguinte, terça (18), um encontro entre representantes de EUA e Rússia na Arábia Saudita, conforme confirmação do governo russo feita nesta segunda-feira. O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, teria sido convidado, mas disse que só participaria se os europeus também estivessem à mesa.
No domingo à noite, depois que a reunião de emergência dos europeus foi convocada, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou que a Europa faria parte de quaisquer "negociações reais" para o fim da guerra.
Conforme nota do Kremlin, o encontro discutiria restauração das relações bilaterais, negociação de um acordo pacífico para a guerra na Ucrânia e a preparação de um encontro entre Putin e Trump. Rubio já chegou a Riad, capital saudita, e o enviado especial de Trump para assuntos no Oriente Médio, Steve Witkoff, disse à rede americana Fox News que ele e o assessor de segurança nacional Mike Waltz também participarão das negociações.
Na imprensa europeia, a reunião desta segunda-feira é comparada à realizada em Munique em 1938, logo depois da invasão da Áustria por Adolf Hitler. França e Inglaterra, na época, aceitaram um novo avanço, sobre o território dos Sudetos na Tchecoslováquia de então, diante do compromisso do líder da Alemanha nazista de que aquela seria a última manobra de expansão.
No ano seguinte, Hitler invadiu a Polônia e veio a Segunda Guerra Mundial. O recente filme Munique: no Limite da Guerra tenta mostrar o contexto da época. O ataque da Rússia à Ucrânia já é o maior conflito na Europa desde a vitória aliada contra a Alemanha. De fato, Trump não sacode só o comércio internacional, mas a própria ordem mundial.