Está contratada mais uma alta de juro de 1 ponto percentual para 19 de março, de 13,25% para 14,25%. Isso significa que, dentro de pouco mais de um mês, o Brasil terá a taxa mais alta desde 19 de outubro de 2016 (no dia seguinte, caiu a 14%). A elevação da Selic, na época, provocou a maior recessão da história do país: subiu de 9,5% em outubro de 2013 para 14,25% em julho de 2015 e ficou lá mais 15 meses.
Existem projeções de uma recessão para este ano, que vão da Fecomércio-RS ao Bradesco. Mas é uma recessão técnica, ou seja, dois trimestres seguidos de queda, até agora leve — no caso do Bradesco, seriam dois recuos de 0,3%, quase na margem de erro.
— Não precisamos de um choque que vai levar a economia para uma recessão, para contingentes da população, para pobreza. Não precisamos disso. Vamos corrigir as distorções, que são grandes, mas que estão sendo corrigidas, inclusive com o apoio da oposição — disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista à GloboNews.
A situação de uma década atrás era mais delicada, mas a dívida equivalia a menos da metade da atual. Na semana passada, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) comunicou o raro aumento de 1 ponto percentual, de 12,25% para 13,25% e previu mais um para março, parte do mercado "sentiu falta" de mais uma sinalização de um ponto para maio – considerou o texto "suave".
Na quarta-feira (5), um levantamento do jornal Valor Econômico com economistas do mercado mostrou que a maioria não considera necessária uma quarta elevação nesse tamanho inusual. Afinal, o que o Copom fez foi anunciar um choque de juro para combater a perda de credibilidade da política fiscal. Choque é momentâneo, não precisa se estender no tempo. Nem o Brasil precisa, agora, de uma recessão daquela magnitude.
No final do ano passado, o governo foi errático nos sinais ao mercado e "conquistou" dólar em R$ 6,267. Neste início de ano, tenta recuperar a capacidade de coordenar expectativas. Também na quarta-feira (5), o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, afirmou que a política fiscal será "contracionista" para ajudar a controlar a inflação. Até agora, os gastos crescentes contrastavam com o desejo "contracionista" do BC.
Depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que, por ele, não haverá novas medidas de corte de gastos – que o mercado parece ter recebido sem susto –, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, criou a expectativa de que haverá fortes contingenciamentos e bloqueios no orçamento já no início do ano. Em entrevista à GloboNews, ao comentar as medidas que o governo pretende encaminhar ao Congresso, Haddad afirmou:
— Se tudo der certo neste ano, penso que vamos ter entregue um conjunto de 30, 40 medidas que considero que vai me honrar. Mas, apesar disso, penso que a gestão orçamentária vai ser desafiadora até o final, não vai dar trégua, não vamos ter um momento de respiro, porque temos trabalho a fazer.
Haddad tenta soar realista. Falta saber qual sua força efetiva neste início de ano. Nesta quinta-feira (6), Lula já ameaça desafinar o coro da equipe econômica, ao dizer que a alta do juro foi "arapuca que não podemos mudar de uma hora para outra". Apesar disso, o dólar, que havia aberto em alta, virou para uma oscilação para baixo no final da manhã.
Sinais de fragilidade de Haddad no final do ano passado também agravaram a perda de credibilidade da política fiscal. Até o novo presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, diagnosticou:
— O governo tem dificuldade de entendimento e Haddad tem sido vencido em alguns temas.
Na entrevista à GloboNews, Haddad ainda respondeu à questão que havia deixado orelhas em pé no início de janeiro:
— Tenho um compromisso com o presidente da República. Estou há 30 anos com o presidente da República e já passei dias bem mais difíceis do que esses que eu passo aqui. Tem dia que você vai me ver cansado. Esse mês pra mim foi particularmente porque tive questão familiar pra resolver, então os dias que eu tirei foi pra acompanhar um parente num procedimento, não tive tempo de descansar. Mas está chegando o carnaval eu vou ter quatro dias...