
Primeiro foi a surpresa, o susto. Depois, veio o reconhecimento pelo legado, a razão. Agora, chegou a hora da emoção.
Vinte e quatro horas depois da morte de Francisco, o Vaticano começa nesta quarta-feira (23) a longa e dolorosa despedida a um dos papas mais carismáticos que a Igreja já teve. A terça-feira foi uma espécie de ensaio geral: para as autoridades, para os cardeais, que chegam de todos os quadrantes, e para os fiéis — alguns deles já aguardando em barracas para o adeus.
As forças armadas e a polícia italiana definiram um perímetro de segurança, com gradis, em torno da Praça de São Pedro, que, de alguma forma, já orienta como deve ser formada a fila para os milhares de peregrinos que tentarão se aproximar do caixão. Serão certamente horas de espera por alguns segundos na frente do corpo de Francisco.
Os cardeais realizaram a primeira reunião, a chamada congregação geral, em que estabeleceram questões práticas, como os horários e a sequência dos rituais. O corpo do Papa, que era velado na capela da Casa Santa Marta, onde Francisco viveu o pontificado e onde morreu, será trasladado para a Basílica de São Pedro na manhã desta quarta. O transporte se inicia por volta das 9h (4h de Brasília), depois de uma oração comandada pelo cardeal camerlengo, Kevin Farrell.
A procissão percorrerá a praça Santa Marta, a praça dos Protomartiri Romani e, em seguida, chegará à praça de São Pedro, o coração da fé católica, pelo Arco dos Sinos, do lado direito da basílica. A entrada na edificação será pela porta central. A partir das 11h (6h em Brasília), Francisco volta a ter contato com seu rebanho.
Também foi definido que as homenagens seguirão até sábado pela manhã, quando haverá a missa de corpo presente, seguida de deslocamento até a Basílica de Santa Maria Maggiore, onde o Papa será sepultado. São esperados mais de 200 chefes de Estado e de governo, entre eles o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, o americano, Donald Trump, e o compatriota de Francisco, Javier Milei.
A terça-feira também foi o dia em que o mundo viu, pela primeira vez, o papa argentino depois de morto: em caixão de madeira, e não nos três encaixados, pomposos, em chumbo, cipreste e carvalho, como é tradição. Francisco, vindo do "fim do mundo", veste uma casula vermelha e uma mitra branca. Nas mãos, um rosário.
Fiéis e turistas ensaiaram o rito da despedida: houve missas simultâneas na Basílica de São Pedro, no altar principal, sobre o túmulo onde, segundo os católicos, encontram-se os restos mortais de São Pedro, e também nos altares secundários. O túmulo de João Paulo II, no interior da basílica, é um dos mais disputados para oração. Talvez só o papa polonês rivalize na história recente com Francisco em popularidade. Do lado de fora, rosas e velas: algumas com o rosto de Francisco entre outras com as imagens de Jesus e de Maria.
O argentino será sepultado distante cerca de 5 quilômetros do Vaticano, na Basílica de Santa Maria Maggiore, conforme desejo expresso por ele em testamento. Após trajeto pelas ruas de Roma, quando certamente serão ouvidos gritos de "Santo Subito" ("santo já"), chegará a seu refúgio, seu local de oração a cada viagem apostólica. No chão de terra, em caixão simples, Francisco descansará para sempre. De forma humilde como viveu e governou o trono de São Pedro.