Até porque o próprio governo Lula deu visibilidade ao tema, gastando horas em reuniões para discutir (im)possíveis medidas para frear preços, a inflação dos alimentos voltou ao centro do debate político.
Na quinta-feira (6), depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma declaração inapropriada – afirmou que "o povo" pode ajudar a baixar preços se recusando a comprar produtos que sobem mais –, a oposição surfou no deslize. A base aliada do atual governo reagiu afirmando que a inflação foi mais alta no mandato anterior, que os críticos apoiavam.
A inflação acumulada (não é mera soma) nos quatro anos do governo Bolsonaro foi de 26,9%, o que daria média aritmética de 6,74% ao ano. Em 2021, a inflação anual chegou a dois dígitos, o que não ocorria desde 2015. Nos dois anos do governo Lula, o acumulado é de 9,7%, com média aritmética de 4,84% ao ano (confira a série histórica aqui).
Tanto no governo anterior quanto no atual, a alta de preços teve e tem componentes externos – fora do controle da gestão – e internos, que poderiam ser administrados. E nos dois casos contou com abastecimento de saliva presidencial pela via do câmbio.
No governo Bolsonaro, a pandemia desorganizou as cadeias globais de suprimento e elevou preços no mundo todo. No Brasil, a alta começou ainda antes, estimulada pelo juro nominal mais baixo da história do real, de 2% ao ano. Na época, o então presidente não responsabilizou os consumidores, mas os donos de mercadinhos. Qual foi a contribuição do então presidente para a alta de preços? Declarações que inflaram o dólar.
No governo Lula, parte da alta da inflação ainda é herança da desarrumação da pandemia, parte decorre da aceleração das consequências da mudança do clima – ondas de calor e enxurradas prejudicam a produção de alimentos. Atribuir responsabilidade aos consumidores faz tão pouco sentido quanto culpar os mercadinhos. Qual é a contribuição do atual presidente para a alta de preços? Declarações que inflaram o dólar.
Então, se há medidas capazes de amenizar a inflação, devem ser consideradas, em primeiro lugar, moderação nos discursos, em segundo, respeito ao tripé que evitou a volta da híper ao Brasil: responsabilidade fiscal, câmbio flutuante e regime de meta de inflação.
A inflação dos últimos anos
Governo Bolsonaro
- 2019 4,31%
- 2020 4,52%
- 2021 10,06%
- 2022 5,79%
Governo Lula
- 2023 4,62%
- 2024 4,83%