Ao tomar posse, o novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou o fechamento da fronteira com o México, que tem potencial de elevar a inflação americana e o dólar no Brasil. Nesta terça-feira (21), o day after da posse, o dólar abriu relativamente estável, com leve oscilação para cima e seguiu assim até o final da manhã.
Mas não deu um pio sobre a de elevar o imposto de importação de produtos chineses para até 60%, embora tenha repetido a de elevar a tarifa de produtos do Canadá e do México para 25% – justo a dos principais parceiros comerciais dos EUA, que vinham se beneficiando com a estratégia nearshoring – investimentos para mudar produção para perto do território americano.
Essa possibilidade de suavização com a China havia sido antecipada pelo ex-embaixador do Brasil nos EUA Roberto Abdenur, em entrevista publicada antes da posse. O veículo da composição é o bilionário Elon Musk, que tem ótima relação com o governo autocrático de Xi Jinping por ter uma megafábrica de carros elétricos.
E Musk também é veículo para o que vem sendo chamado para a "oligarquia tecnológica" que roubou a cena na posse de Trump. Nunca uma posse concentrou tamanha fatia do PIB dos EUA, com as presenças ainda de Jeff Bezos, Mark Zuckerberg, Tim Cook (Apple) e Sundar Pichai (Google) – outro imigrante. Dos três, os únicos que não são os donos das companhias, entre os bilionários presentes são Cook e Pichai.
A fortuna dos quatro maiores – sem contar Pichai – é de US$ 887,3 bilhões, cerca de R$ 5,3 trilhões pelo câmbio atual. O valor é maior do que o PIB de 175 países, como África do Sul, Argentina, Dinamarca e Turquia.
O mercado acompanha os passos de Trump com cautela. O discurso de posse foi totalmente fora do padrão, com direito a acusações ao antecessor a poucos metros de distância e a declaração de que, para o governo dos EUA, só existem dois gêneros: masculino e feminino.
Foi outra falta de civilidade. Ao menos um dos bilionários presentes deve ter se sentido desconfortável: Tim Cook foi o primeiro CEO das 500 maiores empresas americanas a se declarar publicamente gay. A declaração desumaniza quem não se identifica com os padrões desejados por Trump e seus seguidores.
Pode ser uma crença, mas não é uma realidade. Ao ignorá-la, acrescenta um negacionismo, o da diversidade de identidade sexual, ao extenso currículo que já tem o da mudança do clima e o das vacinas. Até agora, a retirada dos EUA do Acordo de Paris não foi oficializada. Não vai surpreender ninguém, só vai reforçar o fim de um mundo que a posse de Trump representa.