O dólar desceu abaixo de R$ 6 logo no início das negociações desta quarta-feira (22), chegou a voltar, mas fechou em R$ 5,946, queda de 1,4% ante a véspera. Ao todo, foram 42 dias acima da barreira psicológica.
O alívio veio de onde antes havia pressão: a promessa de campanha de Donald Trump de elevar tarifas, ou seja, os impostos sobre produtos importados.
A medida teria grande potencial de abalo no câmbio. Como não foi implementada, apenas usada como instrumento de ameaça em negociações comerciais, agora retira esse fator de pressão.
Amedrontar Canadá e México com tarifa de 25% teria como objetivo mudar – a favor dos americanos, claro – as regras do Acordo EUA-México-Canadá, que tem revisão prevista para 2026. No caso das importações chinesas, uma negociação pode estar relacionada a um acordo sobre a propriedade do TikTok.
Na terça-feira (21), Trump disse que avalia impor tarifa de 10% sobre produtos importados da China. Em campanha, havia mencionado até 60%. A perspectiva de taxação menor do que a ameaçada ajuda a desinflar o dólar frente a várias outras moedas.
É bom lembrar que a elevação de tarifas a produtos que chegam aos Estados Unidos tem potencial de gerar aumento de inflação. Com preços em alta, o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) terá de ser mais cauteloso na redução do juro, o que atrai mais investidores ao país e, por consequência, fortalece o dólar (veja detalhes abaixo).
— Não podemos nem devemos assumir que o real vai se apreciar fortemente nos próximos meses, muito pelo contrário, mas também é evidente que o mercado está considerando seriamente os R$ 6 como ponto de gravidade — avalia o economista André Perfeito.
Também há percepção de que o fluxo de capital estrangeiro pode estar ajudando o real. Quando há maior entrada de dólares no Brasil, a cotação da moeda americana tende a baixar.
Por que aumento de tarifa valoriza o dólar
- Se ao assumir a presidência dos Estados Unidos Donald Trump elevar o imposto de importação (tariff em inglês), menos produtos estrangeiros vão entrar no país.
- A redução pode diminuir a oferta de mercadorias, com consequente aumento da inflação.
- Com preços em alta, o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) terá de ser mais cauteloso na redução do juro.
- Assim, os títulos públicos dos EUA, considerados os mais seguros do mundo, seguirão remunerando bem e vão atrair investidores financeiros para esses papéis.
- Com alto fluxo de entrada de dólares nos Estados Unidos e saída de mercados emergentes como o Brasil, a moeda americana se fortalece.
*Colaborou João Pedro Cecchini