Há anos, as cifras das big techs impressionam. Os valores só são comparáveis a PIBs de países – e não dos pequenos. Para dar uma ideia, a Nvidia, uma integrante mais recente desse grupo bombada pela corrida da inteligência artificial, perdeu quase US$ 600 bilhões na segunda-feira da sangria verde no mercado de tecnologia.
Mais precisamente, foram US$ 589 bilhões. Para comparar, é como se a Nvidia tivesse perdido uma Suécia, cujo PIB foi de US$ 593,26 bilhões em 2023. Mas atenção: isso correspondeu a "apenas" 17% do valor de mercado da empresa, que era de US$ 3,5 trilhões. Sim. Trilhões. De dólares. É equivalente à toda uma Índia, quinto maior PIB do mundo, de US$ 3,55 trilhões em 2023.
Parece óbvio que essas quantias estão "puxadas", como se diz no mercado, o que significa além de seu valor real. Aqui e ali, surgia a pergunta inconveniente: é uma bolha? Os críticos comparavam a situação à das ponto.com, mais de duas décadas atrás, no alvorecer da popularização da internet. A ascensão da DeepSeek embute, portanto, duas questões definidoras: se era uma bolha e se foi estourada.
Na terça-feira (28), depois do choque no Vale do Silício, as ações da Nvídia até reagiram e subiram 8,9%. Mas foi pouco mais da metade da perda do dia anterior, ou seja, os preços não voltaram ao que eram antes do DeepSeek Day.
A empresa chinesa parece ter conquistado um lugar entre as grandes, mas será que vai ocupar o lugar das grandes? É uma questão por definir. Porque é óbvio que haverá reação. Do tamanho que são e com a abrangência do poder que têm, as big techs não vão assistir a uma chinesa diluir seus ganhos bilionários.
Nesta quarta-feira (29), a Bloomberg (agência de notícias financeiras) informa que Microsoft e OpenAI tentam investigar se a chinesa obteve acesso indevido a dados dos modelos avançados de IA da dona do ChatGPT. Ainda que não tenha sido a batalha do século, a DeepSeek já deixou uma lição: sempre pode aparecer alguém para fazer melhor e mais barato. Ao menos, se quem tanto prega regras de mercado acatá-las de fato.