Ainda assombrada pelos termos incondicionais da rendição de Mark Zuckerberg a Donald Trump – uma real não seria tão explícita –, a coluna foi pesquisar quais, afinal, foram as ameaças feitas pelo presidente eleito dos Estados Unidos ao dono de uma das maiores empresas do mundo.
Para lembrar, depois que Zuckerberg anunciou seu alinhamento ao futuro governo dos EUA, eliminando checagens nas publicações de suas redes sociais, Trump disse que suas ameaças "provavelmente" haviam influenciado na decisão (cheque aqui).
Em seu livro Save America, publicado em agosto de 2024, pouco antes da campanha à presidência, Trump escreve sobre Zuckerberg:
"Estamos observando-o de perto, e se ele fizer algo ilegal desta vez, passará o resto da vida na prisão, assim como outros que trapacearam nas eleições presidenciais de 2020".
Em postagem feita em julho de 2024 em sua própria rede social, a Truth Social, Trump havia chamado o empresário de Zuckerbucks em texto que falava em "perseguir fraudadores eleitorais em níveis nunca vistos antes, e eles serão enviados para a prisão por longos períodos de tempo". Cheque clicando aqui na fonte.
"Bucks" é uma palavra usada nos EUA para se referir a dinheiro, ou dólares. Zuckerbucks é como foi chamada a doação de US$ 350 milhões feita pelo fundador do Facebook a diversos candidatos nas eleições de 2020. Essa é uma das origens da fúria de Trump contra o bilionário.
Em março do ano passado, Trump havia se referido ao Facebook como "inimigo do povo" em entrevista à CNBC:
— Acho que o Facebook tem sido muito desonesto. Acho que o Facebook tem sido muito ruim para o nosso país, especialmente no que diz respeito às eleições.
Para lembrar
A coluna já mencionou estudo do respeitado Massachusetts Institute of Technology (MIT) segundo o qual uma informação falsa tem em média 70% mais de probabilidade de ser compartilhada do que uma notícia verdadeira, que consome seis vezes mais tempo do que as fake news para atingir meras 1,5 mil pessoas (veja as conclusões de 2018 clicando aqui).
Ainda segundo esse levantamento, o discurso de ódio engaja mais do que vídeo de gatinho. Desperta mais reações, de compartilhamentos a novas postagens. Ex-funcionários do Facebook expuseram que os algoritmos que regulam a disseminação das postagens alimentam conteúdos violentos para gerar mais engajamento (clique aqui para ler uma das mais recentes, de Frances Haugen em 2021).
Sem regulação nas redes sociais e com excesso de tolerância ao intolerável, a campanha eleitoral espelha uma arriscada elevação de tom na vida cotidiana. A regulação das redes sociais não é diferente do controle ao qual estão submetidas todas as demais atividades. Não é censura, é responsabilização. Como agora todos os envolvidos no absurdo episódio devem ser, tanto por agressão física quanto por agressão verbal.