Em outubro de 2018, um vídeo publicado nas redes sociais mostrava Eduardo Bolsonaro afirmando que, "para fechar o Supremo Tribunal Federal (STF), basta um cabo e um soldado". Foi a resposta a uma pergunta de um aliado sobre o risco de que o STF impedisse a posse.
E ocorreu antes da abertura do inquérito sobre desinformação a respeito da credibilidade das urnas ou qualquer outra iniciativa do STF sobre práticas e inciativas antidemocráticas.
Agora, Jair Bolsonaro afirma que "ninguém vai dar golpe com um general da reserva e meia dúzia de oficiais". O argumento, como deixa claro, foi "inspirado" em ponderação de Michel Temer, que em 2021 intermediou uma trégua que fez o ex-presidente incluir a expressão futebolística-institucional "quatro linhas da Constituição" em seu vocabulário.
Agora, ações e iniciativas do STF são usadas para atacar a instituição. Mas a primeira ameaça partiu da família do então presidente eleito. Como a coluna já observou, o STF tem dever de casa a fazer em benefício da própria credibilidade. Mas o que fez foi reagir a sucessivos ataques, incluindo um arrepiante protesto com tochas e máscaras, no melhor estilo Ku Klux Klan.
O general da reserva e meia dúzia de oficiais não acordaram insanos em um dia de novembro de 2022. Só deram consequência à sucessão de absurdos que desfilou desde 2018, segundo áudios do general Mário Fernandes com aval presidencial.
Em outras etapas da investigação, ficou claro como os comandantes das forças armadas que se recusaram a aderir foram alvo de campanha difamatória - ao menos, essa é a parte que se sabe.
E o ex-ajudante de ordens Mauro Cid já esclareceu porque o general da reserva e meia dúzia de oficiais não foram adiante: "O PR (presidente) não pode dar uma ordem se ele não confia no ACE (Alto-Comando do Exército)".
Como a coluna também já observou, o que diferencia narrativa de "narrativa" é a sua coerência. O planejamento da ação, que mistura amadorismo na avaliação de cenário e especialidade na tática de ação, não é um incidente isolado. Faz parte de um processo de mais de quatro anos.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo