Se a tarefa do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já era difícil, ficou ainda mais com a malandragem da Câmara dos Deputados, que incluiu proteínas animais entre os alimentos isentos de imposto sabendo que isso teria um custo, mas impedindo de cobrá-lo com a elevação da alíquota-padrão ao estabelecer um teto para o IVA dual.
Criou mais uma frente de batalha em que a equipe econômica tem de atuar (veja detalhes no final desse texto). Uma tem prazo apertado: na próxima semana, sai o relatório dos gastos do bimestre, que vai exigir o primeiro bloqueio relevante de despesas do governo Lula.
No mercado financeiro, circula a tese de que essa restrição deva ficar entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões. Já nesta semana, é a aposta que divide protagonismo com as relacionadas ao corte de juro nos Estados Unidos.
Também é uma sinalização: se o valor entregue por Haddad ficar abaixo desse intervalo, poderá gerar nova onda de pressão sobre os dois indicadores mais dependentes da situação fiscal: dólar e juros futuros. Se ficar acima, o que é considerado improvável, mas não impossível, tende a produzir indicadores mais suaves.
É bom lembrar que os juros futuros, mesmo com menos atenção no noticiário, também representam uma variável com potencial de produzir efeitos na economia real, por servirem de base para financiamentos para empresas. Sem contar que a elevação dos juros futuros em junho suscitou uma discussão sobre a necessidade de elevar o juro básico ainda neste ano.
Esse contingenciamento esperado para a próxima semana, é bom lembrar, não está diretamente relacionado à promessa de corte de gastos de R$ 25,9 bilhões feita por Haddad no início do mês, quando o dólar ameaçou quebrar a barreira de R$ 5,70. Esse esforço está relacionado ao orçamento de 2025, embora o ministro tenha admitido a possibilidade de antecipar algumas das medidas caso seja necessário para cumprir a meta de déficit zero neste ano.
As quatro frentes de ajuste
Compensações para acomodar a desoneração da folha | R$ 26,3 bilhões
Promessa de cortes em 2025 | R$ 25,9 bilhões
Bloqueio imediato para garantir a meta deste ano | R$ 10 bilhões a R$ 15 bilhões
Manutenção da alíquota-padrão do IVA dual | Gatilhos automáticos para revisar exceções