
Nas últimas semanas passei a reparar mais quando vejo crianças pelas ruas. Fico assustado com a quantidade delas, em horário que deveria ser de aula. E pior: algumas trabalhando.
Estamos em 2025 e ainda não conseguimos superar esse difícil e imenso problema social que é o trabalho infantil. Na sinaleira de um dos cruzamentos mais importantes de Porto Alegre, no encontro da terceira perimetral com a Ipiranga, sempre tem algum menino de uns 10, 12 anos pedindo algo ou vendendo doce.
Olhei bem para o rosto de um desses garotos na última quarta-feira (2). Ele tinha os traços do meu sobrinho. Sardas no rosto, olhos bem escuros, vestia uma camisa de time de futebol. Mas também tinha muita diferença. Esse garoto do sinal, que eu nem sei o nome, estava de pés descalços e corria, de rosto abaixado, colocando torrones nos retrovisores dos carros parados.
Naquele momento pensei: “como pode numa Capital tão movimentada, em momento algum passar aqui alguém que se revolte com isso?”. Mas no outro lado da rua havia um carro da EPTC e logo adiante uma viatura da Brigada Militar. Mas será que nenhum promotor, juiz, delegado, conselheiro tutelar — ou sei lá quem possa fazer algo — viu isso também?
Sigo com olhar atento e não demora muito para no bairro Moinhos de Vento, uma menina de no máximo uns 8 anos de idade me ofereceu panos de prato. Na Rua Dinarte Ribeiro tinham mais crianças, na mesma função, passando por qualquer pessoa que estivesse na calçada e oferendo o produto:
“tio, quer comprar pano de prato pra me ajudar?”
Mais uma vez fico pensando: como pode num lugar tão cheio de gente (que, aliás, tem um público bem instruído) ninguém chama a polícia? Logo também me veia cabeça outra questão: afinal, será que a polícia se importa com isso? O que fariam se eu ligasse e relatasse que vi uma criança vendendo pano de prato?
A infância morre e a inocência também.
Estou cheio de dúvidas. Não consigo admitir crianças submetidas a essa situação nessa altura do campeonato. Esse problema deveria ter ficado no passado.
Crianças pedintes colocam qualquer lugar do mundo em uma situação terrível. É uma tragédia social. A infância morre e a inocência também. Porto Alegre não pode ser assim. O que nós vamos fazer?
Nas sinaleiras da cidade está bem claro o sinal que algo está errado.