O tombo de 5,63% nas ações ordinárias e de 5,19% nas preferenciais da Petrobras, na quinta-feira (27), tem relação direta com os resultados operacionais informados pela companhia - considerados fracos - e com a expectativa de um anúncio nesta sexta-feira (28).
A estatal deve explicitar sua política de distribuição de dividendos, uma forma de remunerar acionistas. Mas há um punhado de outras nuvens escuras sobre o famoso prédio da Avenida República do Chile, a sede da empresa no Rio de Janeiro.
Nos resultados operacionais, que trazem apenas informações sobre volumes, não sobre valores, a Petrobras apontou queda líquida de 22,6% nas exportações de petróleo e de 0,6% na produção de petróleo, gás natural e líquido de gás natural. Outro dado que chamou atenção foi o de importação de diesel no segundo trimestre: 93 mil barris por dia.
A dedução óbvia é de que a empresa está formando um estoque para, provavelmente, garantir o abastecimento interno do combustível caso esse mercado deixe de ser atrativo para outros agentes - situação já cogitada pelo presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sergio Araujo, em entrevista à coluna.
Ao menos no mercado financeiro, o que pesou mais foi o suspense sobre a nova política de dividendos. Nos últimos quatro anos e três meses - a mudança deve ser aplicada a partir dos resultados do segundo trimestre -, a Petrobras fez a festa de seus investidores diretos. Foi uma das maiores pagadoras de dividendos- parte do lucro da empresa que vai para os acionistas. Em parte, porque teve altíssima lucratividade. Em parte, porque foi uma decisão da gestão distribuir mais e investir menos.
Seu atual presidente, Jean Paul Prates, já avisou que essa estratégia vai mudar para permitir que a estatal invista mais. E o diretor financeiro e de relações com o mercado, Sergio Leite, afirmou que a nova orientação seria alinhada à das majors - como são chamada as grandes petroleiras internacionais. O mercado levou a sério essa indicação, mas o efeito líquido será uma redução nos dividendos distribuídos, tal a "generosidade" da fórmula anterior.
Na véspera, Prates teve uma audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assim como o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Obviamente, a data não é coincidência. Prates e Silveira andaram se desentendendo, em tese, sobre investimentos em gás natural. Mas desde a montagem da diretoria da Petrobras há uma disputa de poder entre os dois.
Prates conseguiu desmontar a Política de Paridade de Importação (PPI) e "abrasileirar" os preços de combustíveis sem grande abalo no mercado, mas há especulações sobre um eventual descontentamento presidencial com o comando da estatal, que procura conciliar as demandas políticas às regras de mercado.