O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço
Todos os holofotes da economia iluminam a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que definirá, na quarta-feira (20), a nova taxa de juro do país, estacionada desde agosto de 2022 em 13,75% ao ano. As casas de análise indicam: o colegiado do Banco Central (BC) fará a sétima manutenção do atual patamar. Expectativas e clamores (do governo e do setor produtivo) pedem o contrário: um novo corte para destravar o crédito e soltar o Produto Interno Bruto (PIB).
Diante disso, qual seria a surpresa se a tesoura do BC – como definiu a coluna na semana passada – além de retirada da gaveta voltasse a ser usada? Nenhuma. Significaria apenas a chancela de um cenário existente no país e cujos efeitos já pairam sobre o mercado. A coluna explica e lembra: o PIB do primeiro trimestre avançou acima das apostas, a inflação desacelerou, o dólar está abaixo de R$ 5, o preço dos grãos caem (o que retira pressão dos alimentos) e a uma nova safra recorde é boa para todos: PIB e inflação.
Esses e outros elementos sustentaram a revisão da perspectiva da nota de risco do Brasil pela S&P Global Ratings, uma das gigantes globais, na semana passada. É que inflação mais baixa e atividade econômica em alta têm efeito generalizado nas empresas. Naquelas mais expostas ao crédito – para investir ou ampliar vendas – ainda mais. Não é à toa que a empresária Luiza Trajano – a gestora à frente da Magazine Luiza – declarou ter feito 20 telefonemas ao presidente do BC, Roberto Campos Neto. E ela afirma: ligará outras 30 se os juros não caírem. Justo, pois o varejo sentirá primeiro os reflexos da Selic mais baixa.
Não antes do que a bolsa de valores, onde antecipar o futuro é regra, e não exercício esotérico. E, por lá, os efeitos já atuam. Exemplo: os bancos de investimentos elevaram a projeção de valor de mercado das companhias nacionais, que exibiam múltiplos abaixo do padrão, inclusive a de dona Luiza Trajano. Isso acontece porque cada intuição tem método de estimativa próprio do quanto cada ponto-base de juro a menos acrescentaria ao lucro das empresas listadas na B3. Em outras palavras, juros mais baixos modulam, desde hoje, o panorama futuro.
Outra evidência: juros DI (usados em contratos pré-datados de compra e venda) despencaram nos últimos dias. Ou seja, a contribuição positiva da atual conjuntura é praticada no ambiente em que, de fato, acontecem os negócios. Trocando em miúdos, é como se os juros tivessem caído, mas falta o BC decidir quando colocará a cereja no bolo, os tornará acessíveis aos consumidores e se Campos Netos poderá ou não debloquear Luiza Trajano em sua lista de contatos.