O pouco suspense que havia sobre a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) foi desfeito. O juro ficou em 13,75%, como se previa, e não houve o discurso mais suave que poucos esperavam.
Os diretores não se inspiraram no movimento feito horas antes pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) e mantiveram a frase mais dura no comunicado: "O Copom enfatiza que, apesar de ser um cenário menos provável, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado".
Mais cedo, o Fed havia retirado o trecho que dizia, por várias reuniões seguidas, "algum endurecimento adicional da política pode ser apropriado". O mercado entendeu que o ciclo de alta do juro nos Estados Unidos foi encerrado. No Brasil, se houvesse chance de corte na próxima reunião, em 20 e 21 de junho, no mínimo o Copom teria também de ter retirado a declaração mais dura.
Além dessa, ainda manteve o aviso de que "o Comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação".
Nem aquele afago no ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que havia aparecido no comunicado anterior, foi repetido. Desta vez, o tom foi menos amigável: apontou como risco de alta da inflação "a incerteza ainda presente sobre o desenho final do arcabouço fiscal". Mais explícito, impossível.
— A leitura do comunicado sugere que o Copom não deve cortar os juros na reunião de junho, mas apenas no segundo semestre. Com juro nesse patamar, a renda variável e o resto da economia seguem com uma bola de ferro no pé — observou André Perfeito, economista com anos de experiência no mercado, em linha com vários de seus colegas.
Neste momento, portanto, a melhor expectativa para o início da poda é para 1º e 2 de agosto, ainda mais depois do teor do comunicado. Isso, se o BC der um sinal do afrouxamento do torniquete monetário na próxima reunião. Caso essa perspectiva se confirme, o Brasil poderá fazer um bolo com velinhas: vai fechar um ano com a taxa Selic em 13,75%.