A ambição do governo do Estado e da Aegea, empresa que arrematou a Corsan em 20 de dezembro, é de que a audiência de mediação marcada pelo Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT4) para esta quinta-feira (16) destrave o processo de privatização.
Mas questões funcionais desafiam a pacificação com o sindicato que representa os funcionários da companhia, o Sindiágua, principal motor das ações judiciais que cercaram a venda.
Levantamento com base em dados do Portal da Transparência gaúcho mostra que pelo menos 25 funcionários da Corsan tem remuneração bruta acima do teto salarial do serviço público gaúcho, de R$ 35,4 mil. Como se trata de uma autarquia, não está sujeita ao teto, mas é uma situação incomum. Os dados são de novembro de 2022, e não incluem valores de férias e 13º salário.
O salário mais alto é de um engenheiro efetivado em 1979, que teve vencimento bruto de R$ 68,9 mil mensais. Outros cargos também chamam atenção: um administrador ganhou R$ 45,4 mil; um técnico de segurança do trabalho, R$ 38,8 mil; uma advogada, R$ 37,6 mil; uma contadora, R$ 36,5 mil. Enquanto isso, um diretor ganhou R$ 14,8 mil brutos em novembro de 2022, mas outra pessoa com o mesmo cargo recebeu R$ 29,7 mil no mesmo período.
A falta de equiparação salarial se repete em casos de função equivalente: uma agente administrativa ganha R$ 31 mil, 28 vezes o valor que outra pessoa recebe (R$ 1,1 mil) no mesmo cargo; um contador tem salário de R$ 37,7 mil, outro demora cinco meses para obter quantia equivalente, recebendo R$ 7,8 mil; um técnico em hidrologia tem contracheque de R$ 36,9 mil, enquanto o do colega no mesmo cargo é de R$ 5,4 mil.
A coluna consultou o presidente do Sindiágua, Arilson Wünsch, para saber como essa situação foi criada. Ele afirma que o número de funcionários com supersalários é superior ao apontado no levantamento - entre 40 e 50, estima -, mas ainda são "casos pontuais". Sustenta que a média salarial é de R$ 3 mil:
— Isso existe, sim. Esses casos são da época em que todos os funcionários públicos incorporavam parcelas de salários nos cargos pelos quais passavam. Aí vai aumentando o total. Como representantes dos trabalhadores, não concordamos com isso. Essas pessoas precisam de um PDV ou de um pulso de gestão.
A coluna estranhou um sindicalista sugerindo PDV e perguntou a Wünsch se um programa desse tipo seria bem-vindo.
— Como essas pessoas são consideradas um peso, poderiam ofertar algo. O sindicato aprovou um PDV no governo Tarso em acordo coletivo, para quem quisesse sair. Mas tem de ser um PDV decente, para quem quer ir ao fundo de pensão.
O Sindiágua pediu adiamento da audiência de conciliação prevista para a quinta-feira (16) e até agora não obteve liminar. Segundo Wünsch, caso seja mantida o sindicato vai comparecer "só para ouvir", porque não teve tempo de elaborar qualquer proposta.